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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

21 de maio de 2025

Ainda Somos Bons

 











Perdemos o caminho cedo,
num mapa rabiscado por mãos
que não eram nossas.
Nascemos com a bússola girando feito louca,
e um coração grande demais
pra caber nesse mundo que exige medidas exatas.
Vivemos tropeçando no peito.
Ele pesa. Ele pulsa fora do compasso.
Nosso passo é hesitante,
feito dança ensaiada sem música.
Queremos acertar,
mas pisamos torto
e às vezes esmagamos flores
achando que eram pedras.
 
Guardamos culpas em bolsos fundos.
Algumas são fósseis.
Outras, presentes de família.
Carregamos tudo como herança
não reclamada, e sofremos séculos em silêncio
aquele tipo de dor que se disfarça de “tá tudo bem”.
Somos confusos.
Exageradamente humanos.
Com excesso de sentir
e pouco talento pra traduzir.
Amamos errado,
choramos calados,
e sorrimos com a alma em curativo,
só pra ninguém notar que a esperança
anda costurada com linha fina e um fiapo de fé.
 
Mas veja, além da bagunça,
do caos, da desculpa engasgada.
Há um coração aqui. Inteiro no seu erro.
Fiel na sua falha. Ainda batendo por todos,
mesmo quando o mundo diz não.
Mesmo quando nós dizemos sim
e o resto se parte.
Sim, ainda batemos.
Mesmo feridos, ainda amamos.
Mesmo errando, ainda somos bons.

— Daniel André 

17 de maio de 2025

Lótus

 

No lodo escuro, onde o pântano é rei,
Desponta a lótus, pura, imaculada,
Sua beleza em meio à lama é lei,
Flor que resiste à dor enraizada.

Assim também a alma iluminada
Se ergue firme em trevas de maré,
Não se corrompe, mesmo encharcada,
Pois guarda a luz onde a esperança é fé.

Que importa o fel, a dor, a noite fria,
Se há no peito um sol que não se apaga?
O coração, em paz, floresce o dia.

Tal como a flor que a podridão não traga,
Quem ama a vida em sua poesia
Transcende o caos e nunca se propaga.


— Daniel André

11 de maio de 2025

Mães de Todas as Espécies

 

I
A leoa não pensa.
Ela protege.
A coruja não duvida.
Ela vigia.
A elefanta lembra.
Sempre. Até das dores.
A loba não pede licença.
Ela defende com dentes.


II
A gata finge desdém.
Mas morre por dentro se o filhote mia longe.
A baleia canta
canções que ninguém entende
só o filho.
A égua espera.
Mesmo no galope.
O instinto é feroz,
mas tem cheiro de leite.


III
Ser mãe é morrer em paz
cada dia, só pra ver o filho viver inteiro.
Não é só humano.
É selvagem.
É universal.
É sagrado sem religião.
Mãe não é papel.
É pulsação.


IV
Ela sente o perigo
antes que ele aconteça.
Ela ama antes de ver.
E continua amando,
mesmo sem entender.
Mãe é o começo
que nunca termina.
A todas elas, de todas as espécies:
Vocês são o elo.
O milagre com garras.
A ternura com dentes.


— Daniel André

7 de maio de 2025

Amor em Grãos












No fogão, ele canta, amarelo e fiel,
O cuscuz se levanta, mais quente que o céu.
Não tem luxo, nem ouro, nem prato de rei,
Mas tem gosto de afeto, do jeito que amei.

Com manteiga escorrendo, um café do lado,
É banquete de rei, num trono improvisado.
Quem precisa de vinho, de queijo importado,
Se o amor tá na massa, no milho ralado?

Cada grão um poema, uma rima que brilha,
Mais sincero que janta em família.
É amor que não grita, que não cobra flor,
Mas que aquece a barriga — e também o amor.

Então brinde ao cuscuz, rei da calmaria,
que ensina que amor é calor e farinha.
Se for pra sentir, que não seja com medo,
mas com cuscuz quentinho... e um cafuné cedo.

— Daniel André

3 de maio de 2025

P.S.: Te Vi Fazendo Café

 

Amor,

era só a sua blusa,
mas no teu corpo,
virou domingo.

Fiquei na cama te olhando,
com a vitrola tocando nossa velha canção,
e o cheiro do café
te anunciando melhor que qualquer sol.

Nem sei se foi o jeito
de existir tão sem esforço,
ou só o teu cabelo bagunçado —
mas me apaixonei de novo.
Acontece sempre.

Volta com duas xícaras?
(Eu tô ficando pra sempre, se der.)

 Teu.


— Daniel André.

1 de maio de 2025

O Trabalhador Invisível

 

Quem levanta cedo e sua
Sem ter nome no jornal
É quem move esse Brasil
Com esforço colossal.
Mas a elite do atraso
Só enxerga o capital.

O gari limpa a cidade,
Tão herói quanto soldado,
Mas recebe em troca o quê?
Um salário rebaixado.
Enquanto o luxo desdenha,
Ele é sempre ignorado.

No shopping, tem trabalhador
Preso em dia promocional,
Nem domingo tem sossego,
Nem direito ao natal.
O descanso é só promessa
Num contrato desigual.

Garçom serve mesa rica
Com sorriso no olhar,
Mas por dentro vai calado
Com vontade de gritar.
Pois nem sempre o bom serviço
Faz alguém melhorar.

E a escala 6 por 1
Já virou prisão moderna.
“Um dia de descanso!”
Mas só na ponta da perna.
É promessa que se quebra
Quando o patrão já governa.

E lá no fundo da história
Ecoa a voz de um rapaz:
Chamado Karl Marx na lida,
Lutando por algo eficaz:
Que o trabalhador tenha
Liberdade, pão e paz.

Pois é quem trabalha duro
Que mantém a roda viva.
Não é banqueiro em gravata,
Nem promessa ilusiva.
É suor que move o mundo,
É a base mais ativa!


—  Daniel André