Diante de uma lagoa intocada,
escondida na solitude ancestral
das árvores antigas — de troncos largos
e barbas longas como tempo —
ele permitiu-se transmutar.
Mergulhou nas águas límpidas,
azul-turquesa como céu de verão,
onde o silêncio era melodia
e a luz dançava em reflexos dourados.
Ali, sua memória se dissolveu
nas correntezas dos rios profundos,
na firmeza serena da terra úmida,
na fertilidade viva que habita
todas as formas e espécies.
Seus ombros tornaram-se barbatanas,
remando contra dores cristalinas,
como se a própria água dissesse:
“Purifica-te aqui, na luz que tudo banha.”
E ele sentiu — de verdade sentiu —
as árvores imensas respirando ao redor,
os galhos frágeis como dedos em prece,
os pássaros roçando as nuvens com canto,
e os insetos: minúsculos, coloridos, mágicos,
tecendo com asas a tapeçaria da vida.
Agora enraizado,
feito semente germinada no espírito,
parte da floresta,
matéria viva expandida pela mente,
ele ouve, enfim,
o pulsar do mundo —
o coração escondido no centro do viver.
E foi diante dessa lagoa sagrada
que ele viu.
Sentiu.
Sorriu com a leveza de quem entende.
E agradeceu, em silêncio,
por ter conhecido
a mãe…
Natureza.