Quando as montanhas decidem,
com capricho milenar,
fazer das minhas costas
seu divã particular,
dobro os joelhos partidos —
e no altar do silêncio, oro devagar.
Aqui não há cruzada,
nem salmos em competição,
só mantra que dança com novena,
e oferenda em oração.
Buda acende um incenso,
Krishna sorri com flor na mão,
Jesus oferece o vinho,
Oxalá sopra o clarão.
Cada um com seu idioma,
mas todos dizendo: “irmão.”
Flutuo pela mandala do tempo,
como quem sonha acordado,
minha alma — pomba reluzente —
paira num céu multirreligioso e alado.
A estrela mais antiga
não tinha dono nem doutrina,
era templo e era caminho,
era fé sem disciplina.
Mestres antigos me cercam,
sem hierarquia ou cajado,
revelam segredos com o olhar —
e o verbo fica encantado.
Ao voltar da centelha da fé,
sou mais do que peregrino,
sou altar vivo, oferenda e caminho,
sou quem acende o sol divino
no nevoeiro do destino.
— Dan André