É paradoxo:
a carência voraz, desgovernada,
e a ânsia por ser visto com desejo,
assassinam os sentimentos mais nobres
para que reste apenas a carne —
à mostra, em exposição.
Genitálias em oferta.
Corpos vitrificados.
Na câmara fria do prazer sem rosto,
os afetos são abatidos ainda vivos,
enquanto o toque serve ao impulso,
não à conexão.
Cortes limpos.
Desejos dilacerados.
Tudo embalado a vácuo
em telas profundas de solidão.
E o coração?
Cansado.
Silente.
Assistindo selfies mendigarem orgasmo
em troca de uma curtida.
Sem saber,
meu corpo também é produto.
Parte do balcão digital
de paixões plásticas e vazias.
Instinto em alta, alma em baixa —
e o amor…
lançado ao vento,
sem data de retorno.
Daniel André