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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

23 de junho de 2024

Ainda é Madrugada

 


Ainda é madrugada.
Dois corpos de ébano —
robustos, inteiros —
caminham ao sabor do vento.
Pés que sambam no asfalto quente,
em ritual com as sombras
e a lua cheia... ardente.

Viajantes do tempo suspenso,
onde o real toca o sonho,
e o sonho se torna concreto,
como as fugidias lembranças
que ainda sussurram no peito.

Seus olhos:
mapa de uma África não esquecida,
cheios de histórias,
de uma diáspora que ainda pulsa.
— Herdeiros de deuses,
e de rainhas caladas no tempo.

E de madrugada,
dois homens negros
se recusam a ser apenas poesia escrita.
Eles andam.
Eles são.
Na rua —
uma revolução sem grito,
apenas o som da ousadia
em silêncio.

(A fumaça sobe...)

 
Daniel André

6 de junho de 2024

Persona non grata

 

Em tempos de dor e desespero,
um grito sem voz rasga o silêncio:
genocídios marcham sob a névoa do cinismo,
e a justiça, cega, tropeça em escombros.

A vida, frágil joia entre destroços,
ainda brilha no olhar dos que resistem.
A paz — sonho desacreditado —
cobiça de quem só conheceu ruína.

Terra exausta, uma nação sem rosto,
onde o Estado é miragem e o abrigo, trincheira.
Mísseis de ódio riscam o céu,
mas a esperança insiste em nascer entre ruínas.

Famílias se partem feito espelhos ao chão,
em um mar de lágrimas que nunca seca.
E quem ousa sentir, denunciar, amar —
vira "persona non grata", um incômodo vivo.

Mas há quem escolha não desviar o olhar,
abraçando a dor alheia como se fosse sua.
Pois enquanto houver um coração que sangra junto,
há resistência, há empatia, há futuro.

Daniel André