Gosto de acordar com afirmações leves,
nas entrelinhas do bocejo do sol.
A brisa sacode o orvalho das plantinhas,
meu gato ronrona na janela,
enquanto passarinhos brincam
no vapor do café que dança na cozinha.
O amor está em tudo.
Os momentos mais belos da vida
não gritam sob holofotes —
moram nos detalhes que passam despercebidos,
mas ganham moldura na memória
de quem sabe olhar com o coração.
Amo minha presença,
minha estante cheia de livros,
e o ato de amar sem medo.
O restante...
geralmente,
me viro.
Sou promíscuo nos meus ouvidos.
Transito entre gêneros,
porque a alma precisa de diferentes sons
pra curar o que, às vezes, nem nome tem.
Mas meu vinil ainda arranha bonito
em Roberto Carlos, Barry White,
Jim Croce, Clara Nunes...
Amo a simplicidade do meu mundo.
Abuso da gentileza —
e dela faço meu escudo.
Meu oratório vive aberto,
como meu peito em prece.
Acendo velas, incensos,
leio as luas com olhos de encantamento.
Tenho planetas em Peixes,
ascendente em Aquário,
e o sol...
escondido no pulsar tímido
de um caranguejo sonhador.