Gosto de acordar com leveza.
No bocejo do sol.
A brisa sacode o orvalho.
Meu gato ronrona na janela.
Passarinhos brincam
no vapor do café que dança na cozinha.
O amor está em tudo.
Os momentos mais belos
não gritam sob holofotes.
Vivem nos detalhes invisíveis,
mas ganham moldura na memória
de quem olha com o coração.
Amo minha presença.
Minha estante de livros.
E o amar sem medo.
O resto
me viro.
Sou promíscuo nos ouvidos.
Transito entre sons,
porque a alma precisa de muitos
pra curar o que não tem nome.
Meu vinil ainda arranha bonito
em Roberto Carlos, Barry White,
Jim Croce, Clara Nunes…
Amo a simplicidade.
Abuso da gentileza.
Faço dela meu escudo.
Meu oratório vive aberto,
como o peito em prece.
Acendo velas, incensos.
Leio luas com encantamento.
Tenho planetas em Peixes,
ascendente em Aquário,
e o sol
guardado no pulsar tímido
de um caranguejo sonhador.
— Daniel André

