O mundo precisa descansar.
Fechar os olhos,
vasculhar sua própria escuridão,
onde se esconde o caos
do inconsciente —
agitado, desordenado,
sedento por silêncio.
Atrás da cor do medo,
há anjos e demônios em guerra,
devorando as mágoas secas
de corpos já esquecidos.
Duas estrelas choram no céu,
testemunhas silenciosas,
suspirando por mudança.
Há uma criança,
jogada na terra fria,
batendo de porta em porta
com os sonhos entre as mãos.
Procura abrigo no afeto que não teve,
e se encolhe, espiando janelas
onde famílias vivem
o afago que ela não conheceu.
E então —
explode uma nova galáxia.
Junto dela, fragmentos de indiferença:
pedaços da infância esquecida,
do desejo de um lar
feito de pétalas e humildade.
A criança cresce,
sobe os degraus invisíveis
de sua evolução silenciosa.
Resiste ao concreto das estruturas,
ao quadrado das convenções,
às vozes que zombam do seu ser.
O núcleo dessa alma gira,
entre contradições e rejeições,
entre o peso da solidão
e a fuga constante do passado.
Quanto mais tenta escapar,
mais sente o laço invisível
do que foi deixado para trás.
E é nesse instante —
quando a dor toca o limite,
quando a alma sussurra basta —
que a morte desperta...
e se afoga na luz da esperança.
E você,
com um lenço na mão,
deitada no divã,
reaprende a viver.
Daniel André.