Voa, o peixinho dourado —
inconformado com o vidro imposto.
Não aceita o mundo enquadrado,
expande o espírito, mente e rosto.
Respira o oxigênio do silêncio,
mergulha fundo na sabedoria.
Sabe: em águas turvas, densas,
é onde a mudança principia.
Desvia anzóis, promessas vãs,
a falsa terra — vendida em fatia.
Ergue a cabeça, abraça o céu,
nada o mar, voa a fantasia.
Suas barbatanas bailam no vento,
na curva de um arco-íris sem fim.
Exilado do aquário — contentamento.
Enfim, ganha o mundo. E a si, enfim.
Mas seus irmãos, cegos, imóveis,
presas de uma rede disfarçada,
aceitam as migalhas rotineiras
e chamam prisão de jornada.