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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

22 de fevereiro de 2014

Memórias sob a Árvore













No primeiro alvor da madrugada,
surgia o sol — cabelos de ouro ao vento —
envolvendo a árvore enlaçada,
num silêncio de antigo encantamento.

Em seu tronco firme e vigoroso,
rabiscos guardam juras e paixões,
promessas de um amor tão fervoroso
quanto os olhos das quatro estações.

Ali, o céu beijava a terra em festa,
casal eterno em doce comunhão.
Folhas dançam sobre a relva honesta
como lembranças soltas pelo chão.

Raios dourados tingem a paisagem,
e a flora canta em leve comoção.
No horizonte, um quasar — miragem —
acende a luz de uma recordação.


Daniel André.

19 de fevereiro de 2014

Senhora Paixão

Não fiz sequer o sinal da cruz
no altar casto do coração —
tua pupila, feita de luz,
me converteu em oração.

Do medo, antes garras afiadas,
defesas prontas, sob tensão...
Hoje sou um gato encolhido,
tremendo sob a mesa, em rendição.

Na intimidade, rasgo o chão,
planto o silêncio — colho teu riso.
Será que, virando pó e vento,
tu me farás o teu abrigo?

Cansei de viver em parapeitos,
suando ao som da tua aparição...
Tua alma azul me desarma inteira —
rendo-me agora, senhora paixão.

Daniel André


16 de fevereiro de 2014

Não Somos Rótulos


Signos não moldam intenções,
nem decidem quem vai trair ou amar.
Caráter nasce nas escolhas,
e não nas estrelas a brilhar.

Lugares não definem valores,
nem o solo dita o coração.
Comportamento é raiz interna,
não fruto da localização.

Sotaques são melodias da boca,
encantos que dançam no ar.
E quando os sons se encontram,
o amor começa a conversar.

Somos muito mais que molduras,
que signos, mapas ou regiões...
Somos dois mundos em fusão,
guiados por nossas conexões.


Daniel André

12 de fevereiro de 2014

Viagem ao Meu Sol

O meu amor
segue na humilde, inaudível velocidade
de um Fusca amarelo Java,
por uma estrada que é pétala de girassol,
sempre voltada para a luz.

Dentro do meu modesto Fusca 73,
o vento penteia meus pensamentos
e acaricia meu rosto sorridente.
Ligo o toca-sonhos,
e deixo a paixão escorrer
como suor de alma cansada.
Sigo rumo ao mar,
para amar o meu solitário
e incompreensível eu.

Nas curvas da felicidade,
flores brotam do meu peito casto.
Celebro, sem pudor,
a pureza do meu coração —
tocado por agrados da brisa,
beijado pela espuma do tempo.
Sou afluente das emoções,
rio que corre dentro do peito.

Após muitos quilômetros de encantos,
entre paisagens que só a alma vê,
avisto, enfim,
a praia do amor.

Sinto a virgindade da areia sob meus pés,
o descarrego da alma
quando mergulho na água salgada,
livre, leve, entregue.

E no farol do meu velho confidente Fusca,
vejo o oceano inteiro se perder
dentro de mim.

por Daniel André

9 de fevereiro de 2014

Fruta Vermelha



Dessa fruta escarlate,
desço até o mesocarpo,
descascando a inocência
sem temer o pecado.

O suco da carne pulsa —
libido em flor, em chama.
É sol que lateja rubro,
mapeando a pele
da região que clama.

O mundo, ansioso, espera
a primeira e lenta mordida.
Mas os frutos só caem do galho
quando o tempo
cede à vida.

Maçã do Éden, insubmissa,
reluz saber e tentação.
Liberta verdades ocultas
no sagrado
de uma paixão.

E se amar é comer do mistério,
que seja inteiro, sem castigo.
Pois há redenção no desejo
quando o amor
não pede abrigo.


Dan André