Quem sou eu

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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

31 de outubro de 2013

Depois da festa


Sentado no centro de um salão vazio,
ecoando risos que já se calaram,
segurava-me — sóbrio por teimosia —
num copo morno de cerveja esquecida.

Engoli a última gota da saudade,
sentindo-a escorrer por dentro, lenta,
como os anos, que já não correm por mim,
mas me atravessam em silêncio, como vento.

Comi meu pedaço de torta de maracujá,
mastigando lembranças com gosto ácido,
recheadas de imagens embaçadas
de tempos que pareciam eternos — e não eram.

Estourei bexigas infladas de mágoas,
outras flutuaram, fugindo pela janela aberta.
Ali foram meus amores... e eu fiquei,
com a paz construída sobre os estilhaços.

Ganhei, de presente, rugas e discernimento,
e a amarga sabedoria de que o tempo
não fala — mas ensina.
Um mestre invisível, de olhos eternos.

Alguns me abraçaram com alma e verdade,
outros, apenas farejaram oportunidades.
E ali compreendi: nem todo afeto é sincero,
mas toda ausência deixa vestígios.

Quando a música cessou, tudo virou lembrança:
fragmentos repetidos nas páginas de um livro
que não escrevemos sozinhos,
e que insistimos em chamar... de vida.

— Daniel André

28 de outubro de 2013

O orfanato


Quando entrei naquele corredor,
minha roupa de homem forte
escorregou da alma —
como foge um pai,
como some uma mãe.
Fiquei nu. De tudo.
Despido.

Como podem ser tão frios?
Como conter um oceano nos olhos
após cruzar as paredes de um orfanato?

Pequenos em tamanho,
grandes em desvantagem,
ainda não conhecem o bem mais raro:
o calor de um lar.
Mas mesmo sem saber,
a esperança ainda mora neles —
esperando outro colo, outra chance.

Meu Deus, cuida desses filhinhos!
Que corações vastos e generosos
os recebam como se fossem
a própria vida em semente.

Sorrisos, lágrimas, gargalhadas tímidas,
eu ali — desmontado.
Eles me ampararam.
Cada mão estendida,
cada olhar pedindo um minuto a mais
com alguém que, por um instante,
era deles. E só deles.

O relógio gritou minha partida,
meus olhos — secos de tanto sentir.

Mãos miúdas se agarravam ao portão,
enquanto outras…
se agarravam ao meu coração.

Daniel André

24 de outubro de 2013

Agradecimentos II - Gratidão


















Na imensidão que é essa blogosfera, conhecemos pessoas que tem os mesmos pensamentos e coincidências de vida que nós. Assim é com a amiga e professora Vall Nunes, que tenho imenso carinho.  

Compartilho com vocês, a poesia que ela fez para mim. Não tenho muito o que dizer, pois toda vez leio, fico com aquele semblante de menino feliz.  Um grande abraço a todos !


Daniel André 
Homem
Anjo
Ou profeta?
Lapidador de versos
Impressos
Imprime
Os mais sublimes sentimentos
Homem de sentimentos nobres
Sorriso contido
Pra esconder o homem atrevido?!
Anjo com olhar inocente
Caridoso
Benevolente
Mexe com as emoções sutilmente
Profeta
Anuncia a purificação da alma
Depois de dias no matagal
Para voltar um novo homem
Carregando Um embrião de sonhos
Onde as fantasias se originam
Fotografias doloridas
Registram vidas partidas
Nos álbuns ocultos dos sentimentos
Recordações do Homem Grande
Abriu-se o pote das lembranças
Saiu, enfim, da reclusão
Depois de um tempo necessário de preparação
Deixou suas ideias se espalharem
Como as folhas se espalham pelo chão do outono
Assim, anuncia que é tempo de colher frutos
Novos, doces, com sabor singular da estação
Lapidador de versos
Amigo virtual
Carinho inexplicável e real
Compartilhamos dessa Confusão que nos causa as emoções
Povoa meu particular universo
Com lindos versos impressos
Escritos por um poeta gago romântico
Que pode ser também chamado de Apego
Um animal diferente
Dependente de um abraço quente
Aconchegado nas Cidades do interior
Pra fugir desse Cemitério de gente viva
A natureza purifica
Profetiza 
Escritos com penas angelicais
A perfeita dor
Que somente sente os mortais 
Por serem capazes de se doar a outrem
Amemos!
Como Meu Poeta nos exorta
No Presente do subjuntivo do verbo amar
O mais puro dos sentimentos
Que parece ser o maior tormento
Daqueles que não querem se entregar
Amemos com simplicidade
Com entrega e verdade
Amemos!
Profeta Daniel
André fiel discípulo da verdade
Num misto de homem e anjo
Espalha mensagens de amor
Com muita simplicidade
Mesmo preso no Laço da sua tristeza
Seus versos carregam especial beleza.


Vall Nunes
http://subjetividadeevoce.blogspot.com.br/ 

22 de outubro de 2013

Amor em Noite Crua

Corri léguas só pra te abraçar,
as estrelas sentiam minha euforia —
lágrimas azuis lavavam o céu,
num choro feliz de poesia.

Ali, você já me esperava.
Afoguei teu medo de afago,
e num banquete de libido em brasa,
mergulhei nas marés do teu lago.

A lua, envergonhada, se escondeu,
sob um véu de nuvem pudica.
Nos despimos da saudade no peito,
e também da roupa na rua, bem dita.

Beijamos com calma, mas era chama.
E o desejo virou verbo carnal —
a noite estampava o teu rosto,
em linguagem silente, brutal.

A fome subiu pela cintura,
te deitei com doçura na grama.
Beijos molhados, entrega crua,
e fizemos amor... na lama.

Horas depois, ali, sem pressa,
jantamo-nos à luz de vaga-lumes.
A lua, cúmplice de nossos pecados,
brilhava sobre os corpos sem costumes.


Daniel André.

20 de outubro de 2013

Troféus na Estante do Vazio

E aquelas promessas de amor eterno,
que dissolveram minhas inseguranças?
Fizeste de mim tua fonte de orgulho,
mas deixaste meu ego sem esperança.

E aqueles beijos e abraços vorazes,
com gosto de eternidade no ar?
Quebrei minhas algemas de medo,
só pra aprender de novo a duvidar.

E os ramalhetes de alfazema,
com bilhetes de um "eu te amo" enfeitado?
Mais tarde descobri o aroma oculto —
não era flor, era fardo disfarçado.

No tabuleiro dos corações carentes,
tu enfeitas tua estante de troféus.
E eu? Eu sigo, sem romance, sozinho,
mas com a consciência limpa — já estou no céu.

— Daniel André

18 de outubro de 2013

A Bailarina e o lixeiro



Duas pessoas diferentes
A bailarina e o lixeiro
Não existe classe social
Para o amor verdadeiro.

A bailarina engraçada
Toda ela se mexia
Aos beijos abraçada
Com sorrisos de alegria.

O lixeiro sempre gentil
uma rosa ousou a comprar
como um homem apaixonado
a bailarina conquistar.

Era tanta a felicidade
Naquele momento sentiam
Encontraram a liberdade
Que antes não sabiam.

Sua tez cor de leite,
Com água de colônia,
Ele moreno e todo sujo
se beijam sem cerimônia.

Tarde nublada,
A rua toda florida
Os dois de mãos dadas
Respirando a vida.

Anos se passaram
E o amor forte continua
Cisnes apaixonados
Namoram sob a lua.

E dançam felizes
O amor tudo pode mudar
Prósperos com seus filhos
Em algum lugar.


Daniel André.

17 de outubro de 2013

Convite da Rede

A fadiga me enviou um telegrama,
convocando-me à rede estendida,
num balanço de malha e panorama,
vi lagartixas traçando sua lida.

Passarinhos entoavam cantoria
na varanda, feito sábios sem pressa.
"Qual o sentido da vida?", eu dizia —
e a poesia me respondeu sem promessa.

Pensei na dança breve do tempo,
tão fugaz quanto um livro fechado,
tão utópico quanto um parlamento
sem corrupção enraizado.

Quis tocar o perfume do amor,
quando saísse daquele casulo.
Mas Hipnos, o deus do torpor,
beijou meus olhos com seu acalanto oculto.

Descansei do peso das engrenagens,
do capital e suas pressões vorazes.
Se o amanhã tardar suas paisagens,
saboreio o ócio — sem mais disfarces.

Daniel André


A fotografia foi captada pelo meu grande amigo fotógrafo Nil Barros, na cidade de Nova Friburgo,  interior do Rio de Janeiro.

15 de outubro de 2013

Laranja da terra


A poeira se aquieta com a chuva,
erguendo no ar um cheiro agreste.
A água me lava em silêncio,
e tudo se tinge em tons celeste.

Celeste é ver o campo em flor,
hortas e frutas de brilho orvalhado.
Mãos firmes colhem com cuidado
os dons da terra e do labor.

Caminhonetes cruzam as estradas
de um solo farto, velho conhecido.
Aqui, a guerra vira barro moldado,
e a paz floresce num chão escolhido.

É nessa terra que cravarei meus passos,
como um pé de laranja maduro e são.
Caem flores brancas como promessas,
e o perfume cítrico embala o chão.

Fico, fincando raízes no agora,
na planície onde só cabe gratidão.
Sou semente, sou fruto, sou canto —
sou da terra e seu coração.

— Daniel André


A fotografia foi captada pelo meu grande amigo e companheiro, o fotógrafo Nil Barros, na cidade de Sumidouro,  interior do Rio de Janeiro