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21 de outubro de 2014

Filósofos de ônibus


Rostos despertos, outros ainda dormindo.
É o rito diário dos filósofos de ônibus.
Trabalhadores em seus próprios mundos,
pensando, em silêncio,
sobre a brevidade que é viver.

Na bolsa, a marmita — sustento do corpo.
Na mente, os sonhos — sustento da alma.
Cada um, em sua rota particular,
olha pela mesma janela,
ouve o mesmo ronco do motor
e leva no peito questões universais.

Da janela,
brotam perguntas sem resposta.
Olhares perdidos, apaixonados,
outros tensos, ansiosos,
mas todos, de alguma forma,
em busca de algo maior:
uma saída para dentro.

O dia termina.
E outro começa.
Entre um ponto e outro,
a chance rara de pensar —
de perceber que mudar
nem sempre é descer em outro bairro.

A mudança mais profunda
não troca de endereço.
Ela acontece aqui,
no banco onde a gente
finalmente se escuta.


Daniel André.