De qualquer forma,
é preciso que o passado esteja sepultado —
não por esquecimento,
mas para que o presente
não sangre o futuro.
Certos laços não merecem nós.
Alguns vínculos são espinhos disfarçados.
E há uma frase gotejando num muro antigo:
"Insista, e o castigo virá."
É a teimosia da alma,
a gangorra torta entre razão e emoção,
a roda cármica girando,
enquanto o coração, cego,
segue o eixo do que arde.
Uma navalha corta o tempo —
rasga fotografias, dilui caligrafias.
Minhas mãos cobrem meu rosto,
não por vergonha,
mas como quem ergue escudos
contra o redemoinho tóxico
de uma culpa herdada e mal lavada.
Ainda assim…
as águas nascentes me atravessam.
Brotam tímidas, mas vivas.
E por dentro,
sinto um rio de esperança
redesenhando sua rota
na topografia da minha dor.