Poesias autorais sobre o dia a dia, sentimentos, lugares, amor e ideologias, na visão sensível e crítica de um homem. Versos que exploram rotina, afeto, pensamentos e reflexões com autenticidade.
Quem sou eu

- Dan André
- Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj
15 de outubro de 2019
Sou Sol
1 de outubro de 2019
Noites em Espera
Minhas noites são um mosaico encantado,
feito de cores, memórias fragmentadas.
Brisas de outono me levam, calado,
ao colo da lua, de prata bordada.
Lá moram histórias que o tempo sussurra,
poetas e sonhos de corações cansados,
a troca incerta entre riso e ternura,
e a essência de amores não tocados.
Morcegos dançam nas sombras das árvores,
testemunhas da liberdade dos amantes.
E eu, na solidão que as estrelas guardam,
sou o ponto mais claro entre tantos distantes.
Minhas noites, tão serenas e cheias,
pedem, sem pressa, um toque de emoção —
o sossego doce de um romance inteiro
que enfim me abrace... no centro do coração.
17 de abril de 2019
Peixe que Voa
Voa, o peixinho dourado —
inconformado com o vidro imposto.
Não aceita o mundo enquadrado,
expande o espírito, mente e rosto.
Respira o oxigênio do silêncio,
mergulha fundo na sabedoria.
Sabe: em águas turvas, densas,
é onde a mudança principia.
Desvia anzóis, promessas vãs,
a falsa terra — vendida em fatia.
Ergue a cabeça, abraça o céu,
nada o mar, voa a fantasia.
Suas barbatanas bailam no vento,
na curva de um arco-íris sem fim.
Exilado do aquário — contentamento.
Enfim, ganha o mundo. E a si, enfim.
Mas seus irmãos, cegos, imóveis,
presas de uma rede disfarçada,
aceitam as migalhas rotineiras
e chamam prisão de jornada.
2 de abril de 2019
Romântico em Alto-Mar
Navego em ventos de flores abertas,
embriagado em cânticos de poesia.
Se a dor me alcança ou a alegria desperta,
sou romântico... por essência, por teimosia.
Não me importam os mares já passados —
se foram calmarias ou revoltos temporais.
A vida, em seu mistério entrelaçado,
só encontra sentido nos gestos reais.
A vastidão dos oceanos me chama,
com horizontes que fogem do olhar.
E eu, sonhador em alma e em trama,
me deixo levar... sigo a velejar.
Mesmo que o leme escape à razão,
ou que o tritão negue seu canto antigo,
o que busco é simples: abrigo,
no porto calmo de um seguro coração.
29 de março de 2019
Alta Costura da Alma
Bem-vindos ao grande baile da ilusão,
onde verdades nuas vestem disfarces.
Ajuste a pence à forma da ocasião —
e desfile sua máscara entre os enlaces.
Para cada evento, um croqui distinto:
modelos sociais de conduta e papel.
A personalidade vira um instinto
costurado no avesso do cordel.
Caráter, medido à régua da etiqueta,
costuma ter preço, não valor.
Mas não vestirei uma peça eleita
por moda que nega meu interior.
Tesouras moldam silhuetas perfeitas,
agulhas impõem o ponto da norma.
Na passarela das vidas suspeitas,
o tecido esconde a real forma.
Mas eu —
com zíper firme, encerro o desfile,
apago as luzes da vitrine ilusória.
Meu traje vem da agulha sensível
no dedal da velha costureira da história.
26 de março de 2019
Renascimento
Desvisto as vestes do medo,
deixo o amor — casto e inteiro —
amanhecer no contorno do meu sorriso,
uma vez mais.
O fulgor do corpo desperto
traz a calma das estações antigas,
floresce no peito o júbilo sereno
das flores que dançam no meu jardim.
Luzes doces me envolvem,
como bênçãos de sonhos férteis,
vindas das nuvens mais altas,
ocultas no abraço sagrado de Afrodite.
Trago esperança pulsando no peito,
poesias vibrando na ponta da língua,
o toque urgente de uma paixão viva
e a promessa ardente
de uma nova vida que começa agora.
28 de fevereiro de 2019
Espelho de penteadeira
No espelho da penteadeira,
a mulher — de pele macia,
com lábios de néctar maduro —
perfuma-se com leite de rosas
e acorda devagar para a poesia.
Desperta junto à vaidade serena,
resgata a beleza adormecida,
nos olhos há traços de esperança
e um riso breve… de menina vivida.
A maquiagem é rito e refúgio,
um gesto simples contra o desgosto.
O blush desenha maçãs coradas
e acende a luz
no espelho do rosto.
Escova seus longos cabelos
como quem alinha pensamentos,
passa o rímel — contorna caminhos
que o coração já sonha por dentro.
Faz as pazes com o passado,
perdoa até o que foi mal traçado.
Desfila no quarto — nua, grata,
em paz com o corpo revelado.
Veste a chita amarela da vida,
passa o batom de cor vermelha.
E, feliz, encontra a nova mulher
no reflexo que sorri da espelha.
Daniel André
21 de fevereiro de 2019
Chá dos Sonhos
Sonho?
Não sei. Só sei que chove.
Galinhas ciscam o barro molhado
e comem minhocas
da cabeça de alguém.
Amém.
Que não seja eu.
A saliva estala devagar no paladar
e resgata o bolo de banana —
a colher trinca
na saudosa xícara de porcelana
com bordas lascadas de afeto.
Desenho um coração
no vapor da janela da cozinha.
Dentro dele, hibiscos, camomilas,
rosas brancas… e cavalinhas.
Tudo dança no vidro,
como se o tempo tivesse cheiro.
A chaleira apita.
Acordo — ou quase.
Sirvo o chá
nesse ambiente onírico e mudo
para sentimentos, pessoas e coisas
que ainda moram
no meu eu lírico.
14 de fevereiro de 2019
Viajantes - mantra das almas que se encontram
Fui tua antes.
Tu foste meu.
Num tempo sem nome,
num corpo sem véu.
Já dançamos na lua,
já morremos no mar.
Já queimamos em fogueiras,
sem deixar de amar.
Chamei teu nome em búzios.
Tu ouviste no vento.
Amor de outras eras,
sem peso, sem tempo.
Já fomos rainhas.
Já fomos soldados.
Já fomos silêncio
em becos calados.
Em cartas do Tarot,
a Morte sorriu.
"Transforma, transforma",
o baralho pediu.
O Louco saltou,
sem medo, sem chão.
O Mundo girou —
mais uma encarnação.
Tua alma é meu norte.
Meu corpo, tua luz.
Entre Marte e Vênus,
quem ama conduz.
Não somos só gêneros.
Somos energia.
Axé que transborda
na pele e na poesia.
Reencarnamos de novo.
E de novo virá.
Na próxima vida
te encontro lá.
Enquanto houver lua,
enquanto houver chão,
seguiremos pulsando
em outra estação.
Daniel André
9 de fevereiro de 2019
Aos meninos do Flamengo
5 de fevereiro de 2019
O Tempo em Copo Raso
O tempo é um drink invisível,
bebe-se muito, nunca se vê —
em goles fundos, quase insensíveis,
afoga-se a arte de bem viver.
Retrocede como rio sem retorno,
onde um quadro pintava o coração.
Insistir no que já foi, já se foi,
traz à tona o breu da depressão.
Problemas crescem — e sem clemência,
as faíscas nervosas queimam razão.
Os dias nos testam a resistência,
o estresse grita dentro da tensão.
O futuro? Pertence aos deuses,
que dançam sobre a névoa do porvir.
Desejar demais o que não veio
é convidar a ansiedade a consumir.
O tempo em excesso, líquido escorrendo,
dilui a mente, trinca a lucidez.
Sejamos humanos... e atentos,
empatia é ciência da sensatez.
21 de janeiro de 2019
Príncipe Encantado
A teus passos de bom moço encantado,
com grandes sonhos e as mãos no bolso,
caminhas lento, calmo, iluminado,
ao som sutil de uma flauta em solto esboço.
O tato da música afaga o peito,
e acende a chama do que deve ser.
A alma desperta, num gesto perfeito:
o amor que procuras já vive em teu ser.
Junta-te às miríades que brilham no escuro,
dança no cosmos, repousa no pó —
há beleza também no estar só.
Se o mundo, às vezes, parece enevoado,
não deixes de ser esse bom caminheiro:
pois o príncipe que buscas...
já é teu verdadeiro.