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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

13 de agosto de 2018

Testemunha de uma madrugada












E a insônia, tão inoportuna,
sequestra meu descanso sereno.
O dilúvio do meu lago cristalino
é contido nas asas de um anjo pequeno.

Saudade — do que nunca foi meu.

As samambaias, em riso e dança,
bailam com o assobio do vento.
E a voz de Jim Croce na distância
angustia esse amor sem argumento.

Abraço-te com os olhos fechados,
tua foto — o retrato da poesia.
Teu perfume passeia em meu corpo,
acende em mim a chama do dia.

E é no bocejo do sol que desperto,
para o que nunca chega, mas vem.
Depois de testemunhar a madrugada,
te encontro — nos sonhos e no meu além.


Daniel André

5 de agosto de 2018

Terno e vestido


Sinto no peito a dor dos meus irmãos,
crucificados sob o peso da ignorância.
Nos guetos do silêncio e exclusão,
sobrevivem, sem direito à esperança.

Dentro do terno que o mundo impôs,
há uma flor — alma em desabrochar.
Na infância, calaram sua doce voz
por querer, com as meninas, brincar.

Na feira, de vestido estampado e leve,
esconde na fala uma nota aguda.
Sente saudade do futebol na neve
das calçadas, dos joelhos em bermuda.

Ternos podem vestir a rotina,
mas é o gênero quem veste a alma.
Quem vive sob o olhar que discrimina,
não encontra jamais a verdadeira calma.

Machucada, mas altiva — segue erguida.
Andrógina, talvez, mas cheia de vida.
Pois a essência, por mais perseguida,
renasce inteira, não pode ser contida.

E os acessórios? Apenas enfeite.
Um vestido, um terno — não definem direito.
Pois ser quem se é, no peito e no leito,
é o ato mais puro, mais forte, mais feito.

Daniel André.