Nas vastas paisagens gramíneas,
sinto a paz que me refaz,
fujo da cidade apressada,
pro interior, onde o tempo é mais.
Gosto da roça, da vida singela,
do leite fresco na hora,
queijo com goiabada na mesa,
e um café que perfuma a aurora.
Ando descalço nas ruas de barro,
sem pressa, sem preocupação,
tudo passa devagarinho,
como um sonho em contemplação.
Pesco na represa esquecida,
caço histórias no matagal,
ouço os causos de um ancião
e mergulho nu na cachoeira, sem igual.
Na mercearia, pão com mortadela,
um gole de pinga, riso no olhar,
uma seresta na varanda,
e a donzela a suspirar.
Ir ao centro só de cavalo,
ou de carroça a trotar,
com grilos cantando nas margens
e o zunido a me embalar.
A igrejinha — que encanto antigo!
Na praça, o tempo se espraia,
fico ali, feito menino,
com alma leve que se espalha.
O povo da roça é abrigo,
simpatia que não se disfarça.
No silêncio bom do campo,
só gratidão me enlaça.
Encantado com tanta beleza,
não volto mais pro alvoroço.
A cidade grande ficou pra trás —
é no interior que me reencontro.