A entrada da caverna deslumbra.
Encanta a retina,
abranda a alma.
Hortênsias gentis, violetas abertas,
sensitivas em festa.
Lá dentro, o mistério não assusta.
Paredes contam histórias em sangue,
figuras rupestres gritam silêncio.
Estalactites choram
em gotas tímidas,
intumescidas de tempo.
Ali, vidas estranhas florescem
sem jamais ter visto o sol.
Habitam uma tristeza densa,
moram em cavernas da solidão.
Cego da visão —
descubro o mundo com os dedos.
O eco me guia.
O som é bússola.
A ausência de luz me revela.
Mais adiante,
há um fim que brilha.
Pedras preciosas disfarçam abismos.
E eu sorrio —
com um sorriso que sabe:
nem toda luz é salvação.