Li que este seria o ano de Saturno —
cheio de contradições,
um campo de testes
para os sentimentais
que vivem se protegendo demais.
Mas não adianta correr dos anéis.
Voar num cavalo alado?
Fuga bonita,
mas ilusória.
Talvez o único caminho
seja encarar a própria vida
de frente,
sem se esconder nas laterais.
Períodos duros vêm pra limpar excessos.
Descarto o conformismo,
rejeito a covardia disfarçada de conforto
e me mantenho desperto —
mesmo quando tudo quer que eu durma.
No embalo da lição deste planeta lento,
torno-me outro:
mais firme, mais sóbrio, mais real.
E o antigo eu,
aquele que esperava sorte
sem fazer esforço,
guardo numa gaveta
junto com os mapas
que não levavam a lugar nenhum.
Daniel André