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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

28 de fevereiro de 2019

Espelho de penteadeira


No espelho da penteadeira,
a mulher — de pele macia,
com lábios de néctar maduro —
perfuma-se com leite de rosas
e acorda devagar para a poesia.

Desperta junto à vaidade serena,
resgata a beleza adormecida,
nos olhos há traços de esperança
e um riso breve… de menina vivida.

A maquiagem é rito e refúgio,
um gesto simples contra o desgosto.
O blush desenha maçãs coradas
e acende a luz
no espelho do rosto.

Escova seus longos cabelos
como quem alinha pensamentos,
passa o rímel — contorna caminhos
que o coração já sonha por dentro.

Faz as pazes com o passado,
perdoa até o que foi mal traçado.
Desfila no quarto — nua, grata,
em paz com o corpo revelado.

Veste a chita amarela da vida,
passa o batom de cor vermelha.
E, feliz, encontra a nova mulher
no reflexo que sorri da espelha.

Daniel André


Vieram inúmeras imagens e canções para essa nova mulher diante do espelho da penteadeira. Escolhi essa gostosa canção da Carole King para embalar a leitura;



e a pintura de Pablo Picasso – "Garota em frente ao Espelho" (uma das várias que amo). Interpretação é algo muito pessoal, e vai de acordo com nosso estado emocional. Não sou formado em artes, letras, etc, mas na minha leiga opinião, a mulher seria uma testemunha silenciosa das transformações psíquicas e físicas dessa garota. Uma redescoberta, o renascimento de uma pessoa. 



       Deixo meu abraço sincero e dias felizes para cada um de vocês.


Daniel André.

21 de fevereiro de 2019

Chá dos Sonhos


Sonho?
Não sei. Só sei que chove.
Galinhas ciscam o barro molhado
e comem minhocas
da cabeça de alguém.

Amém.
Que não seja eu.

A saliva estala devagar no paladar
e resgata o bolo de banana —
a colher trinca
na saudosa xícara de porcelana
com bordas lascadas de afeto.

Desenho um coração
no vapor da janela da cozinha.
Dentro dele, hibiscos, camomilas,
rosas brancas… e cavalinhas.
Tudo dança no vidro,
como se o tempo tivesse cheiro.

A chaleira apita.
Acordo — ou quase.
Sirvo o chá
nesse ambiente onírico e mudo
para sentimentos, pessoas e coisas
que ainda moram
no meu eu lírico.

Daniel André.

14 de fevereiro de 2019

Viajantes - mantra das almas que se encontram



Fui tua antes.
Tu foste meu.
Num tempo sem nome,
num corpo sem véu.

Já dançamos na lua,
já morremos no mar.
Já queimamos em fogueiras,
sem deixar de amar.

Chamei teu nome em búzios.
Tu ouviste no vento.
Amor de outras eras,
sem peso, sem tempo.

Já fomos rainhas.
Já fomos soldados.
Já fomos silêncio
em becos calados.

Em cartas do Tarot,
a Morte sorriu.
"Transforma, transforma",
o baralho pediu.

O Louco saltou,
sem medo, sem chão.
O Mundo girou —
mais uma encarnação.

Tua alma é meu norte.
Meu corpo, tua luz.
Entre Marte e Vênus,
quem ama conduz.

Não somos só gêneros.
Somos energia.
Axé que transborda
na pele e na poesia.

Reencarnamos de novo.
E de novo virá.
Na próxima vida
te encontro lá.

Enquanto houver lua,
enquanto houver chão,
seguiremos pulsando
em outra estação.

Daniel André

9 de fevereiro de 2019

Aos meninos do Flamengo

Aos meninos do Flamengo
cheios de sonhos, na busca de um ideal
nos deixam um lindo legado
que sonhar na vida, é essencial

Ver a vida como um campo
driblar todas as dificuldades
ter a alma de um guerreiro
e golear as oportunidades.

Por uma fatalidade do destino
se despedem dos companheiros
ficarão em nossas memórias
e no coração do torcedor brasileiro.

No céu o jogo começa
os deuses aplaudem com adoração
nos campos elísios os meninos correm
sonho realizado, âmago da gratidão.
  
Daniel André

5 de fevereiro de 2019

O Tempo em Copo Raso














O tempo é um drink invisível,
bebe-se muito, nunca se vê —
em goles fundos, quase insensíveis,
afoga-se a arte de bem viver.

Retrocede como rio sem retorno,
onde um quadro pintava o coração.
Insistir no que já foi, já se foi,
traz à tona o breu da depressão.

Problemas crescem — e sem clemência,
as faíscas nervosas queimam razão.
Os dias nos testam a resistência,
o estresse grita dentro da tensão.

O futuro? Pertence aos deuses,
que dançam sobre a névoa do porvir.
Desejar demais o que não veio
é convidar a ansiedade a consumir.

O tempo em excesso, líquido escorrendo,
dilui a mente, trinca a lucidez.
Sejamos humanos... e atentos,
empatia é ciência da sensatez.

Daniel André.