No espelho da penteadeira,
a mulher — de pele macia,
com lábios de néctar maduro —
perfuma-se com leite de rosas
e acorda devagar para a poesia.
Desperta junto à vaidade serena,
resgata a beleza adormecida,
nos olhos há traços de esperança
e um riso breve… de menina vivida.
A maquiagem é rito e refúgio,
um gesto simples contra o desgosto.
O blush desenha maçãs coradas
e acende a luz
no espelho do rosto.
Escova seus longos cabelos
como quem alinha pensamentos,
passa o rímel — contorna caminhos
que o coração já sonha por dentro.
Faz as pazes com o passado,
perdoa até o que foi mal traçado.
Desfila no quarto — nua, grata,
em paz com o corpo revelado.
Veste a chita amarela da vida,
passa o batom de cor vermelha.
E, feliz, encontra a nova mulher
no reflexo que sorri da espelha.
Daniel André