Rego
Minhas chagas com lágrimas mudas,
Derramadas por venerar-te demais.
Desrespeitei o instinto de sobreviver,
E mergulhei cego no curso do teu rio.
Retiro
Do peito, um a um, os pregos doces,
Cravados com o toque da tua ternura.
Como é cruel esse carinho que sangra,
Mas que peço, mesmo na tortura.
Deixa-me
Acalentado na tua incerteza,
Ainda assim, escolho sofrer em ti
Do que existir no conforto morno
De um mundo onde tu não estás aqui.
Entendo-te
Meu amor, mal-amado e confuso,
Tens prazer em dilacerar minha alma.
E eu? Eu só sei que amar-te
É uma forma nobre de perder a calma.
Apoderaste-te
Do espírito, da razão, da luz.
Essa dor perfeita me embala no sono,
Senhora ingrata do meu coração sem escudo,
Rainha de um trono onde jaz meu abandono.
Doloroso
É sentir-te, mesmo à distância,
Mas aceitaste esse destino cruel —
Só posso amar-te quando não estás,
E te perco toda vez que sou fiel.
— Daniel André, com bisturi poético