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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

30 de dezembro de 2011

Adolescentes apaixonados


Dois jovens, leitores de Shakespeare,
apaixonados, correm entre os olhares,
rindo alto sob o sol das ruas,
onde o desejo é ser desejo nos altares.

Recitam mantras de amores eternos,
selam promessas entre goles e fumaça —
a loira gelada, o cigarro de menta,
um ritual moderno, onde o toque não cansa.

Senhores de seus pequenos reinos,
blindam-se das flechas do mundo cinzento,
naufragados num afeto sem margens,
ilhados no amor, sopro e alento.

São dois corpos, mas uma só alma,
no nirvana onde a paixão repousa serena.
Nem precisam mais de palavras —
se falam com o peito, num idioma que acalma.

Daniel André

17 de dezembro de 2011

Vazio de Agora

O whisky não embriaga,
o chão vacila, inseguro,
o calor não vence o frio,
e tudo permanece escuro.

O jardim perdeu a cor,
o lar tornou-se neblina,
há quadros nas paredes,
mas nenhuma alma se insinua.

Sonhos desbotados,
sorrisos feitos de dor,
sou amante da lua,
e da ausência do amor.

Silêncio que berra no peito,
lágrimas presas na garganta,
peço socorro entre preces
sussurradas a uma santa.

Mãos atadas ao passado,
a saudade sufoca e invade,
o hoje pesa nas lembranças
de um tempo chamado felicidade.


Daniel André 

14 de dezembro de 2011

Vestígios de Nós


Do declínio das personalidades,
nascem oceanos divergentes.
E uma pergunta persiste em maré brava:
— O que fizemos com os nossos entes?

Rijeza de vontades se cruzam,
qual a gênese do embate infindo?
Vamos aos trancos e barrancos
sob um teto já sem abrigo, morrendo,
lânguido.

A privacidade perdeu suas portas,
e nem todo detetive é decente.
Pra haver harmonia duradoura,
é preciso mais paz... entre a gente.

O amor perdeu-se na viagem,
ficou no banco de trás, adormecido.
O que restou são farelos de rotina,
e o comodismo, enfim,
varrido de mim — e esquecido.


Daniel André

O Mergulhador Cósmico


Minhas pálpebras — âncoras de silêncio —
sou mergulhador de galáxias,
entre tempo, verbo e espaço,
navego a mente do Criador em transe.

A realidade escapa por entre os dedos,
e na fantasia vou repousar,
voando em abismos abissais,
com a alma no fundo do mar.

Numa gota onírica e sagrada,
teço pactos entre serpentes,
caio em poços que não têm chão,
ou habito os sonhos de outras gentes.

No sal de um lago sem nome,
um olho se abre na escuridão.
Universos espremem seu pus:
a podridão da desigual condição.

Mas o amor me beija a testa,
e corro nos campos elísios.
Com meus mortos e Dionísio,
brindo à memória que resta.

A origem dos sentimentos — mistério.
Ilusão, ou parto de luz e razão?
Quem gerou esse embrião de vida
que pulsa em toda alucinação?


Daniel André.

11 de dezembro de 2011

Nova Friburgo, O Choro da Serra

Que mar foi esse,
despencado da serra —
um deus sem rédeas,
desfazendo em segundos
o que levou vidas pra se fazer.

Montanhas, outrora imponentes,
rasgadas sem piedade.
Descem as casas,
rios de lama,
carregando os retratos
dos sonhos engolidos.

O drama escorre pelas encostas,
como um grito calado
de quem perdeu chão,
de quem perdeu gente,
e ainda respira sob o entulho da dor.

Mas o sol —
esse velho teimoso —
rasga a névoa do medo,
pousa sobre as ruínas,
e planta nos olhos dos vivos
um lampejo de esperança
a renascer do barro.

Daniel André


Na madrugada de 11 de janeiro de 2011, Nova Friburgo, uma das três grandes cidades da serra fluminense, foi a que mais sofreu com as chuvas de verão. A cidade foi devastada pelas cheias dos rios, deslizamentos das encostas, contabilizando oficialmente em todo o município mais de 400 vítimas fatais e mais de 300 pessoas desaparecidas em decorrência das enchentes e deslizamentos. 

9 de dezembro de 2011

Minha Vittória



























Veio ao mundo de oito meses,
o ápice da minha gloria
um anjinho de Deus
nasceu a linda Vittória!

De tão frágil que és,
no colo tenho medo de pegar
com sorriso no rosto me diz:
papai vem me abraçar!

Não incomoda, nem reclama,
o soninho me faz encantar
das vezes que abre os olhos,
é pra sorrir e não pra chorar.

Tem noites que viram dia
no ritmo, estou a acompanhar
de manhã estou com sono,
E agora ela quer brincar.

Daniel André