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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

28 de abril de 2013

A garota do quadro

O triste retrato daquela garota,
sorriso largo... de pura solidão.
Sentada, quieta, na borda do quadro —
bem próxima do meu coração.

Fiquei ali, diante da moldura,
olhos fisgados pela composição.
E um velho amor, esquecido em pó,
voltou, pincelado na recordação.

A imagem — em sépia, tão serena —
revelava o que um dia foi chama.
Agora, só cinza e verniz —
um fim selado sem drama.

Mas ali, um detalhe me fere a visão:
uma pincelada sutil, quase em vão.
Há dores que não cabem em tela,
merecem cadeado…
e um porão.

Daniel André

26 de abril de 2013

O Homem que assistia novela

Era sempre a mesma gargalhada:
João — motivo de escárnio geral!
Quando o relógio batia oito, pontual,
anunciava: — Até logo, vai começar o jornal... da ficção.

Mesmo na mesa com os amigos,
entre gritos por um time esquecido,
no auge da cerveja e da euforia,
sumia.
Fiel à trama da noite,
televisão: sua igreja, sua poesia.

Ria das cenas mais bobas,
chorou quando a mocinha foi levada —
e sua esposa, toda prosa,
colada no sofá, se sentia amada.

Quando o episódio findava,
corria pra rua, disfarçando a emoção.
“Novela é coisa de mulher!” — zombavam.
Ele sorria, com pose e razão:

Não é um amor fictício na TV
que desmancha um homem inteiro!
Sou pai do romantismo, parceiro —
e no fim, sempre volto a ser herdeiro... do aplauso verdadeiro!


Daniel André.

25 de abril de 2013

Refém de mim

Vejo-me atado aos nós sociais —
sinapses em curto, dançando no caos,
minha cabeça, vitrine de carne,
exposta, sem teto, sem trégua, sem paz.

Oportunidades escorrem no vão,
amizades se cruzam como trens:
mesmo trilho, horários distintos.
Amor emperra,
maternidade ecoa no vácuo,
os dias pingam,
os anos… evaporam.

Já não provo o mel —
só o retrogosto amargo do fel.

Nem sei se ainda sou inteiro
ou só um boneco posando de gente.
Nesses dias opacos,
de neblina mental,
sou prisão e carcereiro,
refém da sina que escrevi de olhos fechados.

Daniel André

24 de abril de 2013

Verde Amor














Acho que tô gostando dela.
Não do jeito comum —
é tipo flor desabrochando
no meio da tarde,
com cheiro de chuva
e coração acelerado.

Desde que ela apareceu,
minha samambaia anda mais viva,
como se soubesse de alguma coisa.
O lírio da paz, quieto no canto,
parece sorrir
toda vez que penso nela.

Tem espada de São Jorge na porta —
não sei se protege,
ou se me empurra pra frente
quando fico com medo de falar.
E a "comigo-ninguém-pode"...
bem, essa planta me entende.
Ela é dramática como eu,
mas segura o tranco.

Rosas vermelhas…
essas eu trouxe de propósito.
Pra ver se ela nota.
Pra ver se entende.
Que meu amor tá crescendo
como raiz teimosa
debaixo da pele.

Quando ela passa,
até o vento muda de direção.
E juro, uma vez,
um botão se abriu sozinho
só com o sorriso dela.

Se ela me quiser,
prometo:
regarei todo esse sentimento
com cuidado,
com calma,
com sol na medida.

E se não quiser...
tudo bem.
Ainda tenho o verde,
e o coração pronto
pra florescer de novo.

Daniel André

23 de abril de 2013

Decisão


É amor —
ou só um vento passageiro?
Diz logo.
Apresente tua decisão.
Meu jardim não foi feito
pra esse vai e volta cansado
de quem cultiva apenas
a ilusão.

Nas pétalas de uma margarida,
brinco com a sorte,
como quem ainda acredita
que o amor é sim —
mas carrego, por dentro,
a frustração mascarada
num disfarce de homem forte.

Me espalho pelo vento,
meus pedaços no chão
feito folhas secas
de uma estação confusa.

Que o “bem-me-quer”
seja sincero,
e que a verdade, enfim,
floresça no teu coração.

Daniel André

Minha Alma é Doce, Mas Voa

Tenho a alma doce,
mas não me confundas com fragilidade.
Sou vidro fino, sim —
mas também afiado nas bordas.

Amo flores
e abraços que duram mais do que a pressa.
E às vezes,
quando o desejo pisca,
avanço sinais com um sorriso nos lábios
e permissão no olhar.

Se fores me tocar,
não venha com pressa.
Sussurra, primeiro.
Desarma minha vergonha com voz baixa,
encosta tua energia na minha
como quem acende uma faísca
em campo aberto.

Deixa que eu te envolva
com minhas asas de relâmpago
antes que te percebas
voando comigo.

Daniel André

20 de abril de 2013

Olhos famintos


Meus olhos —
dois meteoros incandescentes,
vasculham cada canto da cidade
em busca do teu rosto
que leva a vida
como quem não deve nada ao tempo.

Eles sofrem quando não te veem.
Tua ausência aperta,
estrangula meu lirismo
e me obriga a te procurar
no infinito…
e em mim.

Caço-te com a retina em alerta,
como quem fareja um milagre.
Tu és o alimento da minha visão,
a matéria da minha memória em construção.

Apareça.
Quero fotografar tua existência,
revelá-la no meu corpo,
imprimir teu movimento na minha pele
e arquivar-te —
não em papel,
mas em batida:
na primeira letra
do meu coração.

Daniel André