Nascem rasgando a terra —
edifícios espelhados de abundância,
luxo erguido com o tijolo
do progresso capitalista.
Matam as casas antigas,
suas fachadas de poesia,
ornamentos de um tempo
que ainda encantam
os olhos do saudosista
em prantos silenciosos.
Rompem o chão,
brotam selvas de pedra.
A globalização —
essa desumanização disfarçada —
constrói impérios de glória
e jogos áridos de competição.
Mas dessas erupções cinzentas,
ainda sonho em caminhar
pela Belle Époque esquecida,
entre o charme antigo do Rio
e as avenidas de São Paulo,
onde cada prédio era história,
e não apenas altura.
Quero sentir o passado urbano
com seus traços sutis,
e lembrar que progresso de verdade
também abriga flor
e poesia nos fins.