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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

9 de dezembro de 2014

Selva de pedras


Nascem rasgando a terra —
edifícios espelhados de abundância,
luxo erguido com o tijolo
do progresso capitalista.

Matam as casas antigas,
suas fachadas de poesia,
ornamentos de um tempo
que ainda encantam
os olhos do saudosista
em prantos silenciosos.

Rompem o chão,
brotam selvas de pedra.
A globalização —
essa desumanização disfarçada —
constrói impérios de glória
e jogos áridos de competição.

Mas dessas erupções cinzentas,
ainda sonho em caminhar
pela Belle Époque esquecida,
entre o charme antigo do Rio
e as avenidas de São Paulo,
onde cada prédio era história,
e não apenas altura.

Quero sentir o passado urbano
com seus traços sutis,
e lembrar que progresso de verdade
também abriga flor
e poesia nos fins.


Daniel André.

1 de dezembro de 2014

Rubro Veludo

O abajur vermelho tingia a sala
num rubro de veludo lento.
Dois corpos repousavam ali,
deitados sobre os suspiros
de um silêncio profundo.

Nuvens leves de bem-estar —
paixão em estado de brisa.

Seus corpos falavam.
Com um ritmo sincopado,
dançavam como um jazz bem alinhado,
com olhos sorrindo em compassos,
e toques afinados
no improviso do amor.

O ambiente, envolto em blues,
guardava a rouquidão do prazer.
Parecia um filme antigo e mudo,
onde o som vinha dos gestos,
e a ternura falava
sem legenda.

A noite, preguiçosa,
começava a se despedir.

Inebriados na neblina dos sonhos,
beijos dourados com faíscas sutis
ainda dançavam, coladinhos,
sob o olhar tímido do sol.

E ela…
Fitzgerald na vitrola.
Cantando baixinho
a trilha do amor
que não precisa mais dizer nada.

 
Daniel André

29 de novembro de 2014

A Fagulha do Ciúme


Se o amor de um repousa no poente,
no outro nasce uma febre ardente.
O que dormia em silêncio contido,
desperta em fogo, pulsante, doído.

Se um dia escorrer no teu peito,
te deixará frágil, sem leito perfeito.
Exigirá tudo — até o que não dás,
pois o outro, sempre… em suspeita jaz.

No ciúme, confia-se desconfiando,
declara-se amor, já se desculpando.
Perdoa-se mais por medo que razão,
e sofre-se a longo prazo, em presta atenção.

Mas há uma forma branda, serena,
onde o ciúme é só brisa pequena —
um toque sutil, que não envenena,
mas tempera o amor, sem fazer cena.

É faísca que aquece sem queimar,
um brilho discreto no olhar.
Quando medido, não é prisão,
é só o zelo... da paixão.

 
Daniel André.

25 de novembro de 2014

Dedo de Deus



Vou escalar o céu.
Com a alma leve,
o coração em brasa,
e os versos na mochila.

Subirei com a fé nas solas,
com o entusiasmo no peito,
e a ajuda silenciosa das palavras.

Quero tocar,
com dedos humanos,
o Dedo de Deus —
aquele que aponta o infinito
em pedra e vento.

Ali no alto,
pedirei amor que não acaba,
respeito que não precisa gritar,
e paz que não seja só silêncio.

Quero ligar os anseios do mundo
em um fio invisível
entre os homens e as árvores,
entre os rios e os afetos,
entre o céu e essa Terra
que também é nossa.

E quando eu descer,
que não seja mais o mesmo.

Que traga nas mãos
um pouco de Deus —
e em mim,
a vontade de sermos
mais irmãos.

Daniel André.

21 de outubro de 2014

Filósofos de ônibus


Rostos despertos, outros ainda dormindo.
É o rito diário dos filósofos de ônibus.
Trabalhadores em seus próprios mundos,
pensando, em silêncio,
sobre a brevidade que é viver.

Na bolsa, a marmita — sustento do corpo.
Na mente, os sonhos — sustento da alma.
Cada um, em sua rota particular,
olha pela mesma janela,
ouve o mesmo ronco do motor
e leva no peito questões universais.

Da janela,
brotam perguntas sem resposta.
Olhares perdidos, apaixonados,
outros tensos, ansiosos,
mas todos, de alguma forma,
em busca de algo maior:
uma saída para dentro.

O dia termina.
E outro começa.
Entre um ponto e outro,
a chance rara de pensar —
de perceber que mudar
nem sempre é descer em outro bairro.

A mudança mais profunda
não troca de endereço.
Ela acontece aqui,
no banco onde a gente
finalmente se escuta.


Daniel André.

6 de junho de 2014

Piano e Ferida

Estalaste esperança nos meus ouvidos,
como quem reconhece o gemido
de um homem... entregue.

Elevaste o sentimento à grandeza,
beijando pétalas do que fomos
num cenário bordado de calma.

Tiraste meu escudo de aço,
me fizeste palhaço —
rindo, nos braços do teu afável amor.

E então, desprotegido da vida,
notei, no peito, a ferida
renascendo... outra vez.

Lavei minh’alma em lágrimas,
mergulhei num mar de lástimas
só pra me reencontrar.

Ao som de um piano distante,
lembrei do teu coração — leviano —
e de nós dois...
inacabados.


Daniel André.

2 de abril de 2014

Projeto de Amor

Aspiro, com todo o desejo,
que sejamos dois arquitetos,
traçando juntos um plano singelo:
do sonho... ao esboço concreto.

Nos teus olhos mora a ternura,
um hino suave ao recomeço.
Seremos história desenhada a dois,
em cada beijo, um novo endereço.

Na feira, no filme, na mesa posta,
nos gestos que o cotidiano revela,
há poesia no arroz com feijão,
há um poema fervendo na panela.

O amor será nossa fundação.
Haverá cansaço, talvez incerteza,
mas se houver luz e paz entre nós,
tudo se refaz... com delicadeza.

Dos tijolos da paciência e cuidado
ao concreto firme da confiança,
ergueremos um muro de flores,
e no anelar... nossa aliança.

Nosso castelo não terá torres nem guardas,
mas será forte em cor e calor.
Te agradeço com beijo e sorriso —
somos engenheiros do próprio amor.

Sonhos de criança ganham chão:
cachorros correndo no quintal,
sapatos perdidos pela casa,
e risos ocupando o espaço total.

No jardim já floresce a esperança:
frutas, aroma e céu de acalanto.
Nessa terra plantamos raízes —
um lar... sem risco de desmoronamento.

Dan André

27 de março de 2014

Sobre o divã


O mundo precisa descansar.
Fechar os olhos,
vasculhar sua própria escuridão,
onde se esconde o caos
do inconsciente —
agitado, desordenado,
sedento por silêncio.

Atrás da cor do medo,
há anjos e demônios em guerra,
devorando as mágoas secas
de corpos já esquecidos.
Duas estrelas choram no céu,
testemunhas silenciosas,
suspirando por mudança.

Há uma criança,
jogada na terra fria,
batendo de porta em porta
com os sonhos entre as mãos.
Procura abrigo no afeto que não teve,
e se encolhe, espiando janelas
onde famílias vivem
o afago que ela não conheceu.

E então —
explode uma nova galáxia.
Junto dela, fragmentos de indiferença:
pedaços da infância esquecida,
do desejo de um lar
feito de pétalas e humildade.

A criança cresce,
sobe os degraus invisíveis
de sua evolução silenciosa.
Resiste ao concreto das estruturas,
ao quadrado das convenções,
às vozes que zombam do seu ser.

O núcleo dessa alma gira,
entre contradições e rejeições,
entre o peso da solidão
e a fuga constante do passado.
Quanto mais tenta escapar,
mais sente o laço invisível
do que foi deixado para trás.

E é nesse instante —
quando a dor toca o limite,
quando a alma sussurra basta —
que a morte desperta...
e se afoga na luz da esperança.

E você,
com um lenço na mão,
deitada no divã,
reaprende a viver.

 

Daniel André.

22 de março de 2014

O amigo e poeta Daniel Simões.



“Não tenho poesia
E sim a alegria
Da alegria,
De um amigo meu
Que tal alegria
Em mim se perdeu !”
(Dan André)

É que hoje venho compartilhar com vocês, o lançamento do livro de um grande amigo e chara: Daniel Simões.


Daniel Simões é um homem de grande talento e sensibilidade. “Poesias para Toda Forma de Amor”, é uma coletânea de versos onde o amor, é tema principal. Nas 167 páginas, o leitor irá apreciar com olhos da alma, esse sentimento tão nobre e verdadeiro em seus diversos aspectos. Para quem ama, para quem já amou, para quem sonha com um amor, indico essa agradável leitura. 

 E indico também que conheçam o seu espaço na blogosfera:


http://danlirando.blogspot.com.br/



“Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos”. Essa frase tão bacana me lembra o inicio do meu blogue. Escrevia alguma coisa, lançava e não tinha seguidores. O Dan(chamo ele assim) foi o primeiro seguidor, e sempre me deu muito incentivo. Dizia assim: “Que interessante, além de gago, ele sabe escrever, um caso raro na natureza (risos)!” Em breve estaremos na praça XV vendendo alguns exemplares (risos). O meu carinho e admiração por esse ariano, careca e chará, fizeram-me descontrair um pouco. 



Praça XV - Centro do Rio de Janeiro/RJ


Aproveito o espaço para deixar meu abraço, carinho e amizade por todas as pessoas que estão sempre comigo aqui no gago poético.
  
Daniel André.