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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

4 de agosto de 2021

Despertar do Dragão


 








Como um dragão desperto no peito,
trazendo a luta… e a vitória.
Serpenteava por minhas entranhas,
reflorestando o ar com sopros de glória.

Cuspia a ignorância,
com dentes feitos de coragem.
Bebia o licor da felicidade breve,
mas lúcida — sem miragem.

A tristeza?
Já não germinava em mim.
Restava o silêncio da individualidade,
solo fértil para um novo jardim.

O egoísmo ainda tentou reinar,
vestido de falsa capitania.
Mas virou fagulha dispersa —
sem reflexo no espelho do dia.

E quando abri os olhos…
o mundo da caverna ruía.
Lá fora, a luz era pensamento.
E a erudição, agora, me habitava
com a leveza da harmonia.

 
Daniel André

28 de julho de 2021

Fogo que Reconhece

 

Na primeira troca de olhar,
mergulhamos — sem aviso — no abissal.
Ali, no silêncio entre as íris,
reconhecemos os medos…
e as vontades ancestrais.
Nosso encontro?
Jamais seria engano.

Somos amantes que se vestem da noite,
com delírio escancarado na retina.
Com desvelo, aliso tuas curvas
e descubro, no toque,
a cartografia do desejo que ilumina.

A alma se nutre do que arde,
do desejo que pulsa, sem contenção.
Somos instinto e poesia,
movidos pela paixão —
e sim, pela ereção.

Se o sexo é vida que se comunica,
intimidade que queima e permanece,
então que a vontade de querer e ser querido
continue a florir,
mesmo quando o corpo adormece.

Daniel André

22 de julho de 2021

Garçom, o Cardápio da Consciência



Garçom, me traga um cardápio decente —
de ideias novas, de gente diferente,
nada de pratos com toque opressor,
que indigesta é a fala do falso salvador.

Sem dogmas frios ou discurso engessado,
dispenso o santo mal letrado e endeusado.
Fake news no altar? Não me venha com isso,
prefiro a verdade, mesmo que sem artifício.

Nessa orquestra que desafina a razão,
sirva um drink que abrace o coração.
Colorido, intenso, com gosto de riso,
quero tingir de alegria o meu próprio juízo.

E, por favor, traga mais gente à mesa,
de toda etnia, de toda beleza.
Que o bem circule feito boa energia,
com abraços que curam e alma que irradia.

Que num brinde de respeito e clareza,
possamos crescer sem perder a leveza.
Garçom, meu amigo, já fiz o pedido —
agora traga a conta...
e um mundo mais unido.

Daniel André

30 de maio de 2021

Cotidiano de um homem


Gosto de acordar com afirmações leves,
nas entrelinhas do bocejo do sol.
A brisa sacode o orvalho das plantinhas,
meu gato ronrona na janela,
enquanto passarinhos brincam
no vapor do café que dança na cozinha.

O amor está em tudo.

Os momentos mais belos da vida
não gritam sob holofotes —
moram nos detalhes que passam despercebidos,
mas ganham moldura na memória
de quem sabe olhar com o coração.

Amo minha presença,
minha estante cheia de livros,
e o ato de amar sem medo.
O restante...
geralmente,
me viro.

Sou promíscuo nos meus ouvidos.
Transito entre gêneros,
porque a alma precisa de diferentes sons
pra curar o que, às vezes, nem nome tem.
Mas meu vinil ainda arranha bonito
em Roberto Carlos, Barry White,
Jim Croce, Clara Nunes...

Amo a simplicidade do meu mundo.

Abuso da gentileza —
e dela faço meu escudo.
Meu oratório vive aberto,
como meu peito em prece.
Acendo velas, incensos,
leio as luas com olhos de encantamento.
Tenho planetas em Peixes,
ascendente em Aquário,
e o sol...
escondido no pulsar tímido
de um caranguejo sonhador.

 
Daniel André

15 de maio de 2021

Nunca te vi

Nunca te vi.
E ainda assim, me lembro —
dos beijos trocados
em mundos distantes,
onde o tempo se curva
ao que o amor sente.

Teu cheiro me surge,
sem razão ou aviso,
guiando os caminhos
do meu improviso.
Feromônio antigo,
meu delírio é teu rastro,
no palco noturno
do sonho mais vasto.

A noite me embala,
faz versos em mim,
acaricia os cabelos
com silêncio sem fim.
Na sinastria calma
que o cosmos revela,
um grande amor pulsa —
e talvez seja ela.

Daniel André

20 de março de 2021

Poesia à La Carte


Bem-vindo à cozinha da inspiração,
onde versos são cortes de precisão.
Hoje servimos poesia artesanal,
com toque caseiro e final celestial.

Pré-aqueça o coração sem pressa,
pique as memórias, retire a pressa.
Use palavras frescas, da estação,
e tempere com rimas, sem ostentação.

No mise en place da emoção sincera,
misture um afeto com primavera.
Se o poema azedou, revise a medida 
a metáfora errada pode azedar a vida.

Sal? Só um punhado de realidade,
pimenta? Sim, se for com suavidade.
Equilibre o doce com pitadas de dor,
pois até a saudade tem seu sabor.

Cozinhe no fogo lento da reflexão,
deixe ferver no caldo da intenção.
Sirva quente, num prato de alma nua,
com colher de pau e um fio de lua.

Acompanhe com um vinho de silêncio bom
e decore com migalhas de João.

Ah, e lembre-se: poesia bem feita
não se engole — se saboreia na espreita.
É prato de chef, mas feito com mão de avó:
um banquete de vida, simples e sem nó.

- por Chef Daniel André

12 de março de 2021

Costura de Ouro

Costuro com fios de ouro
as vísceras abertas da paixão.
Lá fora, a chuva canta na janela
e acalma os tremores exaltados
da falta…
da desconexão.

Meus ancestrais sussurram em silêncio:
meu ego não luta por vitória.
Ele aprendeu —
que paz não se conquista à força,
ela se ausenta…
cria asas…
e volta, quando é hora.

Com as mãos suspensas ao tempo,
entrego o jogo.
Aceito o mistério.
O elixir para toda dor
não está nas respostas,
mas nas gotas sagradas
que o tempo deixa cair
sobre a pele do coração.

Porque em cada instante
— mesmo nos vazios —
o autoamor floresce
feito planta que insiste
em crescer na fresta da alma.

Daniel André.

25 de fevereiro de 2021

Teu Coração, Meu Cuidado


Teu coração…
é um filhote adormecido,
tão pequeno, tão exposto, tão bonito.
E eu confesso:
tenho medo que o mundo —
com suas garras e pressa —
venha te ferir.

Coloca teus óculos escuros,
esconde esse olhar que brilha demais,
que se perde nos descaminhos da vida
como quem sonha alto demais
em um mundo raso, demais.

Disfarça de bravura esse teu rosto
que se emociona com o mais leve toque,
com gestos pequenos,
com o silêncio sensorial dos que sentem demais.

Estás perdido em mim.
Mas quando olhei teus olhos,
vi uma timidez que acolhe —
e sem perceber,
vi também a minha própria vida
refletida ali.

 
Daniel André

29 de janeiro de 2021

À Deriva na Terra dos Rápidos


À deriva, nesta terra de malandros,
onde sentimentos viram pó na liquidez
do prazer instantâneo — busco-me.
A criança em mim nunca adulteceu,
e hoje, homens choram
por amores que não afundam… nem flutuam.

Já não há beijos que unam almas,
nem gosto de eternidade na boca.
Os abraços — raros —
não curam mais o âmago da carência.
E o sexo, antes sagrado,
agora serve ao relógio biológico.

Escondo-me.
Sou a azeitona submersa no Dry Martini,
sufocada numa canção qualquer
que ecoa por bares cheios de gente vazia.
Sombras me vestem em trajes de embriaguez,
e eu, na bandeja dos dias,
sirvo a minha insatisfação
com este mundo que esqueceu como sentir.

 
Daniel André.