Com seu penacho vermelho de guerra,
o Pica-Pau maluco fazia festa na tela,
enquanto Tom & Jerry, em rixa infinita,
brincavam de esconde-esconde
nos becos da vila do Chaves.
À noite, os gatos Thundercats rugiam,
saltando em batalhas no miar dos ventos,
um Cavalo de Fogo riscava os céus,
e Tartarugas Ninjas, entre pizzas e punhos,
lutavam como sombras entre prédios.
Scooby-Doo latia enigmas no escuro,
Gaguinho gaguejava memórias,
Patolino bufava verdades sem filtro,
e Popeye mastigava espinafre
com músculos herdados de He-Man.
O riso sarcástico de Mutley ecoava,
desenhado por Hanna-Barbera,
enquanto o Capitão Planeta se erguia no céu
e Doug, ao lado de Charlie Brown,
jogava bolinha de gude com as estrelas.
Batman vigiava os telhados dos sonhos
da Punk, a levada da breca —
que, como eu, sonhava mundos impossíveis
onde a infância não tinha fim.
Na Caverna do Dragão, os Smurfs
colhiam salsaparrilhas com alegria,
e entre cogumelos azuis
surgiam faíscas, luzes e trovões:
Jaspion, Changeman, Flashman,
e os Cavaleiros do Zodíaco —
cósmicos guardiões da nossa fantasia.
Amanhecia devagar sobre a vila,
e nossos heróis, agora grisalhos,
despediam-se com um aceno discreto,
guardados no baú da memória
de meninos e meninas que cresceram,
mas nunca deixaram de acreditar.
Daniel André