Vesti o espelho do silêncio das minhas,
minha mãe em suspiro, minha avó em costura.
Cada renda, um segredo que caminha
no ventre do tempo, em alma pura.
O véu caiu como bênção e promessa,
coroa de vento, rito de flor.
Ali, fui semente e fui colheita,
no altar dos dias, desabrochei em cor.
Minhas mãos tremiam feito as delas,
no fio da espera, no nó do sim.
E ao andar, senti que todas me seguiam
mulheres em mim, vestidas de mim.
Não fui noiva, fui constelação contida,
uma lua inteira em gesto breve.
Pela primeira vez, fui minha vida,
tão de volta e num véu tão leve …
— Daniel André