E os pratos, como ilhas isoladas,
sustentam verbos jamais pronunciados.
Algo entre garfo e olhar
ficou perdido na travessia.
As vísceras expostas do pernil
ainda trazem o cheiro
de uma prole que talvez… tenha rido.
Quem nunca desejou
uma família feliz e bem servida?
Unem-se agora apenas pelo estômago,
pela luz morna do candelabro dourado,
e pelos minutos — esses glutões —
que devoram o que resta de conversa.
A mesa se transforma em barco à deriva,
navegando por mares de indiferença,
onde se conhecem por hábitos
e se desconhecem pelas ausências.
Um gato esfumaçado escapa,
lento, por entre dedos inquietos,
de mãos que seguram talheres
e a preciosa Aniba canelilla —
como quem segura o nada.
A mãe observa ossos limpos nos pratos
e a vida digital nas retinas vidradas.
O silêncio mastiga tudo.
Bem-vindos.
É a hora do jantar.