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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

2 de novembro de 2023

Consciência negra

 

No açoite da aurora, nasce a lembrança.
Não é só sol, é cicatriz que balança.
Do vento que dança à terra que geme,
a história é preta, marcada, e não treme.


Não é silêncio, é voz que não morre.
A pele preta resiste, mesmo quando escorre.
Cada traço é grito, é luta, é fronte.
Não é favor: é direito na ponta da fonte.


Vieram correntes, tentaram calar.
Vieram navios, tentaram apagar.
Mas ergueram quilombos, bateram tambor,
e o mundo ouviu: aqui ainda há cor.


Ser negro é mais que existir, é enfrentar.
É bater o pé, é ocupar, é não se calar.
Somos raiz, somos pulso, somos chão.
Não peça licença pra revolução.


Daniel André.

9 de setembro de 2023

O Labirinto do Sentir

 


O absurdo habita os sonhos tortuosos,
onde amor e pecado se abraçam,
em becos ocultos da alma,
numa fecundação etérea 
rabiscada em telas de desvario.
Porque até a poesia,
se revela em sombras e cio.

Sob o céu de estrelas silentes,
o amor caminha leve, infinito.
E o pecado — vil, sedutor —
corre atrás da liberdade em conflito,
nas curvas noturnas do desejo,
onde os segredos ganham corpo
e se tornam rito.

Mas o amor, tão claro, tão inteiro,
vem como antídoto ao veneno antigo.
Acalma a alma,
sara o coração ferido,
e como quem conhece o caminho
sem precisar de mapa ou abrigo,
nos leva , passo a passo,
a um destino cristalino.

Onde a saída, não é o fim…
mas o recomeço mais bonito.

Daniel André

6 de setembro de 2023

Tributo a mãe natureza










Natureza, tesouro mais precioso,
presente eterno de vida e respiro.
Teu esplendor, dom majestoso,
é herança viva que no tempo inspiro.

Em teus bosques e verdes catedrais,
habitam seres de rara beleza —
em asas, cores, cantos e sinais,
num manto vivo, bordado de natureza.

Tuas veias de água seguem seu caminho,
rios límpidos que acalmam e sustentam.
Neles, peixes dançam com o destino,
sob o sol que aquece e alimenta.

Ó mar, berço azul de tudo que pulsa,
onde corais e manguezais se entrelaçam.
Polvos e estrelas, em algas que ondulam,
cantarolam com golfinhos que jamais se cansam.

Montanhas erguidas como sentinelas,
guardam segredos do tempo e do vento.
Preservá-las é honrar suas janelas
que espelham a alma do firmamento.

Que nunca esqueçamos — somos parte,
não senhores deste planeta sagrado.
E proteger a terra, com gesto e arte,
é um poema que precisa ser recitado.

 
Daniel André

25 de agosto de 2023

O Amor Segundo Dali

 

Nas asas de um peixe dourado,
o amor sobe leve.
A lua é um pão quente 
e derrete corações em silêncio.

Relógios sussurram areias,
borboletas riscam ideias no ar.
Beijos caem como estrelas,
e dos troncos velhos nascem abraços,
raízes que procuram raízes.

O amor, esse tempo que pinga
não se apressa:
desliza por fendas invisíveis,
onde a realidade se dobra mansa.

No peito, uma tela branca pulsa:
recebe cores raras,
delírios doces
que a paixão revela.

Daniel André

22 de agosto de 2023

Astrologia nossa de cada dia












nas estrelas, o manto da noite,
segredos traçados no céu,
um enigma de luz distante,
destino velado ao papel.

a vida escorre, rio em dança,
esperança mistura-se à dor,
nas águas do tempo que passa,
a alma se move em fervor.

memórias de eras passadas,
vozes que ainda ecoam,
constelações entrelaçadas,
histórias que não se perdoam.

estrelas e vida, um só fio,
teias no vazio a brilhar,
um poema cósmico no frio,
o rio insiste em cantar.

- Daniel André

12 de agosto de 2023

Campo

 

Acordo antes dos galos — o mundo dorme,
na bruma o dia ensaia seu clarão.
O gato e o cão se abraçam, há união:
amor que não se diz, apenas dorme.

A lua foge, amante que se some,
com brilho terno em súbita emoção;
nas árvores, os deuses, sem perdão,
sopram canções e o vento lhes dá nome.

O sol timidamente se derrama,
e o cheiro do café, qual doce chama,
me beija a alma e a vida faz caber.

Não sei o que é viver — talvez o seja:
sorver o tempo em paz, enquanto o veja
silente, a me ensinar a compreender

Daniel André

4 de agosto de 2023

Samba do amor sem manual

 

O amor não pede licença,
não espera permissão.
Chega inteiro, veste a alma,
e pulsa como oração.

Moço ama outro moço,
moça beija outra moça.
Quem só aponta o dedo,
é quem vive de alma oca.

Amar nunca foi pecado,
pecado é não entender
que a vida só faz sentido
quando é livre pra viver.

Bandeira não é ofensa,
é abraço, é calor.
Vergonha não vem do afeto,
mas do medo do amor.

E se o mundo fecha a porta,
ele entra, luz e fé.
O amor não cabe em regras 
ele é tudo o que se é.


- Daniel André

25 de julho de 2023

Da Carência

 

No âmago da alma, um vazio ressoa
ausência de amor, dor que não se cala.
O coração, sedento, se desmorona,
na falta de um toque que o embale e embala.

Ecoa a saudade num canto ferido,
clamor silencioso, quase oração.
O peito busca um gesto, um abrigo,
mas só encontra ecos e solidão.

Anseia-se um olhar que seja sincero,
um afeto que chegue e se demore,
um amor que venha inteiro, mesmo incerto 
mas a ausência aperta e não socorre.

Ó carência, cruel companheira da noite,
sugando a calma, abalando a razão,
lembras que a vida é breve, feito açoite 
e corta fundo… sem pedir permissão.

Mas ainda, lá dentro, uma chama respira.
Esperança, tênue, mas verdadeira:
que um dia venha alguém, feito brisa ou fogo,
e cure essa fome inteira 
com amor sincero,
e toque duradouro.

Daniel André

18 de julho de 2023

Resiliência





















No fogo da dor, me forjo,
sou aço quente que não se curva.
Na curva difícil permaneço,
sou recomeço, sou resistência.

Como rocha diante do mar,
não fujo, não desisto.
Cada golpe me ensina,
e sigo com mais vida.

Na tempestade abro asas,
voo alto sem medo.
Resiliência é meu escudo,
minha calma, minha luta.

Se caio, levanto.
Se dói, cresço.
Em cada dor, um traço,
em cada queda, um passo.

Com fé caminho firme,
com esperança me alinho.
A vida me testa sem quebrar,
sou cicatriz que prova: vivi.

Sou mais forte, mais inteiro,
resistência é meu destino.
Nada me encerra no caminho,
sou resiliência, eis meu nome.


— Daniel André


15 de abril de 2023

Soneto da Essência Despida

 

Despida a alma, amor, sem véus guardados,
não peço o corpo, mas tua essência clara;
quero o silêncio onde a verdade ampara,
teus olhos nus em céus iluminados.

Sem máscaras sutis, gestos forjados,
sorrir contigo é dádiva tão rara;
é ter no íntimo a chama que repara
o mundo e o veste em risos revelados.

Quero tocar a luz que em ti se acende,
não no fugaz, mas no que permanece,
na eternidade que em teus olhos tende.

E quando a vida em nossos braços tece,
serei metade que em metade entende:
somos inteiros, e o amor nos enobrece.

- Daniel André

8 de abril de 2023

A estante

o todo, o instante
é arquivado na grande
estante das saudades
na memória liquida
constante e transparente
do que já vivemos.
 
é um mar de amor que afoga
a lembrança de um sabor
que se paralisa no cheiro 

de um simbólico perfume,

a dor é coberta, mas
as janelas ficam abertas
para o vento assoprar
o que machuca e
também acalma.
 
o ponteiro do relógio, sou eu:
que arquiva as saudades
como um oito deitado.

são tantos tatos,
todos os sentidos misturados
perdidos e encontrados
mas todos na estante
num mísero e fugaz
instante.
  
Daniel André