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24 de abril de 2025

Entre o Canto e a Calma

 

O terreno ao lado da minha casa
é selva em oração.
Silenciosa.

Árvores cheias de memória.
Raízes que sabem mais que a gente.

Hoje o céu acordou cinza.
Suave.
Feriado de nuvens.
Sem pressa.

Os pássaros cantam.
Mas não pra festa.
Cantam pra paz.

A chuva não despenca.
Ela cai devagar.
Sussurra na folha.
No vidro.

A umidade afaga.
Como quem diz:
“Fica. Descansa. Respira.”

Não ouço carros.
Nem relógios.
Só o tempo…
Desfazendo-se em gotas.

Sento à janela.
Caneca quente nas mãos.
Vejo o mato se curvar.
Em reverência.

Cada folha é um monge.
Cada galho, um verso.
Em silêncio.

Neste dia nublado, sou semente.
Neste feriado, sou chão.
A vida, por um instante,
não cobra nada.

Só recolhimento.

E assim fico:
Entre a mata e a alma.
Entre o canto e a calma.
Ouvindo a existência
chover devagar.

—  Daniel André

10 comentários:

  1. Olha, senti aqui o cheirinho de terra molhada...

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  2. Também chegou aqui o cheirinho.
    Abraço, bfds

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  3. Caro André,
    Muito agradecido pelo olhar cuidadoso, perspicaz, nos dois textos do meu blog. Passo por aqui para acompanhar a cadência do “feriado das nuvens" apreendida na simplicidade do poema. Quando conseguimos perceber que A chuva não despenca. / Ela cai devagar. Sussurra na folha... é claro que estamos em oração, e essa chuva interior mereceria ser fotografada. É o que você o fez.
    Um abraço,
    José Carlos Sant Anna

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  4. Bahhh, que lindo o tema escolhido e o conteúdo!
    Versos com um lindo ritmo para ler, até parece uma canção.
    A paz de espírito notei que é total!
    Maravilhoso, querido amigo! Aplausos!!!
    Um feliz fim de semana, com muita paz.
    Obrigada pelo carinho do seu comentário, muito lindo!
    Abraços daqui do Sul / Porto Alegre!!

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  5. Só posso aplaudir e concordar com a Taís! Realmente uma canção linda e completo: chega aos nossos corações. Adorei! abraços, ótimo fds! chica

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  6. Olá, amigo Daniel!
    Um post do estilo que gosto, introspectivo, cheio de contemplação profunda.
    As folhas como monge... especial metáfora.
    Um enlevo passar por aqui e ler tal preciosidade num mundo turbulento demais e tão fugidio das coisas da natureza de imensa beleza doadas pelo Criador.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Abraços fraternos de paz

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  7. Que escrita mais delicada e cheia de alma...
    A atmosfera construída é tão viva que quase se pode tocar o silêncio molhado entre as árvores.
    Cada imagem, como as raízes que sabem mais que a gente, carrega uma sabedoria antiga que toca fundo.
    A suavidade da chuva, o canto dos pássaros para a paz, o céu cinza como um abraço — tudo se entrelaça com uma ternura tão bonita.
    A sensação de recolhimento é profunda, como se o próprio mundo tivesse se ajoelhado em reverência à calma.
    Essa pausa entre o canto e a calma é como um refúgio para a alma, um respiro necessário no meio da correria.
    A caneca quente nas mãos, o mato se curvando em respeito, as folhas como monges — que imagens lindas e tão cheias de poesia!
    Cada verso é como uma gota de serenidade escorrendo devagar pela pele da existência.
    O texto inteiro é um convite silencioso para se entregar ao tempo sem pressa, apenas sendo parte do chão, da chuva e da vida.
    Uma beleza que não precisa de enfeites, só da pureza da contemplação. 🌿✨

    BOM FINAL DE SEMANA
    ABRAÇOS CARINHOSOS

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  8. Dan, teu texto é respiro.
    Uma oração em forma de poesia, que toca a gente onde a pressa não alcança. Senti cada palavra com sensibilidade dessas que, lavam por dentro. Essa imagem da mata como monge, do dia como chão… é de uma beleza que silencia. Obrigada por esse instante de recolhimento compartilhado. Hoje, depois de ler você, também sou semente. Fica meu silêncio agradecido.
    Abraço!

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Agradeço a sua visita e comentário. Abraços, Dan.