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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

2 de agosto de 2025

Sobrevivente

 


















Sonhei alto.
Esqueci que a gravidade é filha da realidade.

Amanheceu na cidade grande.
Não ouço galos cantando.
Ouço sirenes miando
o choro mecânico da selva cinza.

Às quatro da manhã
são as buzinas que gritam.
Quem grita dorme?
Quem dorme, perde.
Perde o ponto, o tempo, o troco.

O malandro não dorme até tarde.
Ele vigia o caos,
vende sorte em papel amassado.
É o bicheiro da esquina,
com olhos de quem viu mais fim do que começo.

Troquei o cheiro de terra molhada
pelo perfume ácido do metrô lotado.
Lá, o silêncio era ouro.
Aqui, barulho é moeda de troca.

Na cidade grande,
ninguém tem tempo de se perder.
Então nos perdemos todos juntos,
no mesmo horário de pico.

Fui buscar futuro.
Ganhei um aluguel atrasado.
E um vizinho que canta sertanejo às três da manhã.

Sobrevivo.
Porque viver,
aparentemente, custa mais caro que sonhar.

Daniel André

12 comentários:

  1. Poema madrugador que muito gostei de ler. Deixo o meu aplauso e elogio
    .
    Feliz fim de semana
    ..
    “” Se eu soubesse cantar ““
    .

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  2. A vida na grande cidade é fogo...Cheia de luzes e barulhos a qualquer hora do dia ou noite ,sem contar os vizinhos barulhentos... Linda poesia! abraços, chica

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  3. Que baita representação da realidade, cara!
    Transfigurou e nos devolveu a realidade nua e crua da cidade grande!
    Daqui aplaudindo.
    Um abraço,
    José Carlos Sant Anna

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  4. Oi ,Daniel
    A realidade da cidade gera um peso que nos fixa no chão
    e lembra toda hora a dureza da vida ,aquela sensação de peso que
    nos faz perder a leveza que precisamos para sobreviver. .A mim tira toda a inspiração por isso gosto de amenidades quando estou no aconchego da casa . Um abraço, Daniel e vamos sobrevivendo e sonhando alto , certo?
    beijinhos

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  5. Olá, Andre.
    Muito tocante seu poema. O caos é o preço que pagamos para termos acesso a melhores estruturas, comodidades e avanços que existem nas grandes cidades. Muitos poderiam fazer o caminho de volta para o sossego, para o mais silêncio, para mais calma, mas sabe, parece que o caos também vicia, a gente se adapta e tem coisas que a cidade grande pode oferecer.

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  6. Que texto profundo e real…
    Me tocou demais essa mistura de sonhos e realidade dura da cidade grande.
    A forma como ele mostra o contraste entre o silêncio e o barulho, a esperança e a luta diária, é como se eu pudesse sentir cada sensação na pele.
    Me identifiquei demais com essa busca por futuro, mesmo que o preço às vezes pareça tão alto.
    Sobreviver, no fim, é mesmo uma arte — e a gente vai aprendendo, passo a passo, com coragem no peito e sonho na alma.

    É um lembrete delicado e forte de que, apesar dos pesares, a gente segue firme, sonhando e resistindo.

    ABRAÇOS

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  7. Olá, amigo André!
    Percebo um entrelaçar de sonho e realidade
    A vida que corre com seus percalços e a ilusão de um mundo melhor em que a vida seja feita de utopia viável.
    Sim....custa muito mais caro viver.
    Vamos sonhar e poetar enquanto vivos estamos.
    Tenha um agosto A Gosto de Deus!
    Abraços fraternos de paz

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  8. Bom dia Dan
    Que poema tão bem construído, e tão realista.
    Acho que você descreveu muito bem o caos que se vive n cidade grande.
    Bom domingo.
    Deixo um obrigada e um beijo.
    :)

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  9. A minha mulher não sabe viver fora da cidade.
    E as minhas filhas também.
    Boa semana

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  10. Verdade. Só li verdades nessa poesia.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  11. Daniel, que beleza triste tem tua escrita… É quase um protesto sussurrado desses que a gente lê com os olhos e escuta com o estômago.
    A cidade grande, com suas sirenes miando e seus vizinhos insuspeitos, é esse lugar onde o sonho tropeça na pressa e o futuro vem cobrado em boletos vencidos. Mas olha, mesmo assim, tua poesia resiste.
    E isso já é uma forma de viver talvez a mais corajosa.
    Obrigada por transformar o que sentes em palavra que toca.

    Abraço com alma,
    Fernanda

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  12. Querido amigo André, tudo que escreveste é verdadeiro, é o sufoco das grandes cidades e pagamos alto preço por termos muito e não termos paz!
    Estou numa mudança dentro de mim, fazer o que preciso, calmamente, e o resto, consumir sem necessidade, discussões por ideologia, briguinhas no condomínio e um trololó infinito com aqueles que precisam discutir, precisam se impor etc. e tal, não tem mais vez comigo. Estou fixada na paz de espírito! E antes tarde do que nunca.
    Um poema tocante, amigo, te aplaudo!
    Um ótimo fim de semana e um grande abraço daqui do Sul !

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Agradeço a sua visita e comentário. Abraços, Dan.