escorre mansa
como rio que se esqueceu da pressa.
Canta um pássaro,
e o tempo se deita sobre as pedras,
escutando.
As cachoeiras murmuram segredos
em línguas líquidas,
que só o silêncio compreende.
Chove.
E cada gota cai
como se soubesse exatamente onde pertencer.
O petricor sobe do chão
como incenso da terra,
perfume da memória vegetal do mundo.
Entre pedrinhas e espelhos d’água,
sou leve.
Sou líquida.
Sou quase vento —
mas com raízes.
E na ciranda de folhas no céu,
descubro que a paz
que tem som de riacho
e cheiro de depois da chuva.
Daniel André