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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

4 de dezembro de 2018

Trem das Cores


O idílico trem das cores
trilhava sua melodia em minha pele,
enquanto eu,
embrulhado em quatro cobertores,
namorava o frio
e o perfume úmido da terra recém-chovida.

Minha mente,
carregada por tempestades de sentir,
deslizava entre lembranças e silêncios,
como se o tempo fosse líquido
e eu, gota a flutuar.

Às vezes sou chuva 
trago no peito a essência da lágrima.
Às vezes sou a luz entre nuvens espessas,
ou a labareda tímida
de uma vela que insiste em brilhar.

Mas sou feliz.
Respiro as músicas que me compõem,
e mesmo em dias nublados,
sou tocado com ternura
pelo silente pouso de uma borboleta.


Daniel André.

30 de novembro de 2018

O amor está no ar


O amor é o gás da vida,
afago que aquece e acalma,
encontro manso de almas,
brisa doce sobre a ferida.

É beijo que vem sem aviso,
rosa vermelha no lençol,
perfume que vira memória,
desejo aceso como o sol.

É palavra que não se fala,
mas vibra no coração,
é silêncio que ilumina,
é música sem refrão.

É toque leve no tempo,
presença que não se mede,
é o fio que tece esperanças
sem que a gente perceba.

O amor, esse não cansa,
renasce em cada estação,
muda a forma, muda o rosto,
mas nunca a intenção.

E quando menos se espera,
ele pousa como canção,
sutil, inteiro, eterno 
feito oração.


Daniel André

25 de novembro de 2018

Caçador de estrelas


Vou para o céu caçar estrelas,
guiado por trilhas de velhos romances
aqueles que tocaram meus lábios
como beijos breves e distantes.

Acredito no brilho que dança no escuro,
na força empírica de dois corpos que se atraem,
no verbo e no cálculo, no mistério profundo
que nem a ciência ousa decifrar 
o indizível nome do amor.

As estrelas me sussurram:
amar é existir em expansão.
E eu, entre constelações,
busco o abraço quente da luz,
como quem volta pra casa no fim da noite.

Neste pequeno globo imensurável,
rabisco órbitas, traços,
como quem caça...
e é também caçado.

E sigo, armado apenas
com um romantismo primoroso,
feito bússola do coração.

Daniel André

12 de setembro de 2018

A árvore e o mar

                                                                                              Eu em Niterói/RJ

No alvor do dia, o sol em chama dança,
nas folhas que balançam com o vento.
A brisa toca o mar em lento alento,
e o céu se curva em doce esperança.

No tronco antigo, a vida dança e lança
promessas gravadas com sentimento,
corações riscados, puro argumento
de um tempo em que o amor era criança.

As ondas contam segredos à areia,
o sol se inclina em fogo na descida,
pintando em ouro a tarde que clareia.

E a árvore, em silêncio, dá guarida
à luz que se dissolve em mar e teia,
memória viva de uma história vivida.

Daniel André

9 de setembro de 2018

Na Rua de Trás












 

Na rua atrás do óbvio,
o tempo descalço,
o silêncio me veste.

Rostos vitrines,
não me veem.
Sou sombra, reflexo.

Ainda pássaros,
um velho,
fumaça que dança.

No chalé da mente,
a solidão serve café.

E nela,
fico em pé.


- Daniel André


13 de agosto de 2018

Testemunha de uma madrugada












E a insônia, tão inoportuna,
sequestra meu descanso sereno.
O dilúvio do meu lago cristalino
é contido nas asas de um anjo pequeno.

Saudade, do que nunca foi meu.

As samambaias, em riso e dança,
bailam com o assobio do vento.
E a voz de Jim Croce na distância
angustia esse amor sem argumento.

Abraço-te com os olhos fechados,
tua foto, o retrato da poesia.
Teu perfume passeia em meu corpo,
acende em mim a chama do dia.

E é no bocejo do sol que desperto,
para o que nunca chega, mas vem.
Depois de testemunhar a madrugada,
te encontro, nos sonhos e no meu além.


Daniel André

5 de agosto de 2018

Terno e vestido


Sinto no peito a dor dos meus irmãos,
crucificados sob o peso da ignorância.
Nos guetos do silêncio e exclusão,
sobrevivem, sem direito à esperança.

Dentro do terno que o mundo impôs,
há uma flor — alma em desabrochar.
Na infância, calaram sua doce voz
por querer, com as meninas, brincar.

Na feira, de vestido estampado e leve,
esconde na fala uma nota aguda.
Sente saudade do futebol na neve
das calçadas, dos joelhos em bermuda.

Ternos podem vestir a rotina,
mas é o gênero quem veste a alma.
Quem vive sob o olhar que discrimina,
não encontra jamais a verdadeira calma.

Machucada, mas altiva — segue erguida.
Andrógina, talvez, mas cheia de vida.
Pois a essência, por mais perseguida,
renasce inteira, não pode ser contida.

E os acessórios? Apenas enfeite.
Um vestido, um terno — não definem direito.
Pois ser quem se é, no peito e no leito,
é o ato mais puro, mais forte, mais feito.

Daniel André.

18 de junho de 2018

Triumph Bonneville


Jaqueta cor de corvo —
armadura de liberdade.
Um homem
e sua Triumph Bonneville.

Acelera pela estrada de outono,
voa sobre folhas secas
em um cenário que sussurra
nostalgia bucólica.

Atrás,
camadas pesadas de lamúria
se espalham no asfalto
como folhas que não voltarão ao galho.

A Bonneville o leva além da paisagem:
leva à extensão de si mesmo.
Ali, encontra harmonia —
um amor sereno,
com o perfume da renovação
e o olhar sério,
oculto por uma Ray-Ban espelhada.

Agora, sem jaqueta,
mas com a alma vestida de sol,
ele encara o horizonte —
um homem,
no fim da tarde,
e sua Triumph Bonneville.


Daniel André.

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Deixo com vocês, a melodia de uma música que amo, e se encaixa com o ambiente bucólico e metálico da Triumph Bonneville.

Abraços para todos vocês!  




10 de junho de 2018

O retorno



Retorno ao passado, que hoje é presente
não ouço vozes, nem vejo mais pessoas
e na minha face, a cusparada do tempo
vergonhosa e que atordoa.

Recebo o julgamento moral dos imperfeitos
enquanto conserto o caos desse pretérito
os leigos juízes da hipocrisia
fazem questão de instaurar inquérito.

Dedos que apontam erros
erros costurados de penitências
e no silêncio, a minha ciência.

Busco a força na esperança
deixo de lado o transtorno
e recomeço, com o meu retorno.

Daniel André

23 de maio de 2018

Sintonia Rútila


As batidas do meu coração
renasceram no teu olhar —
luz que atravessou meu corpo
e fez o desejo pulsar.

Em teus olhos, tão iluminados,
me encontro — inteiro e seguro.
No abrigo do teu sorriso,
já sonho nosso futuro.

Mesmo à distância, esse amor
arde feito chama crescente,
labareda que se vê de longe,
mas que aquece intensamente.

Somos dois astros em sintonia,
um ponto brilhante no céu,
dançando em órbita suave,
sob o véu da noite fiel.

Rútila conexão sagrada —
um amor que, sem esforço,
reluz… e não se apaga.


Daniel André

8 de maio de 2018

Canção Da Paixão Solitária


Canto à lua, de prata desenhada,
a canção triste da minha emoção,
versos sutis da paixão calada
que pulsa e vive em meu coração.

Te busco além da névoa enluarada,
obra divina do meu sonho e chão.
Mas quando abraço a tua alma alada,
me escapas... feito brisa em minha mão.

Teus olhos — dois faróis em noite calma,
me assombram com delírio e doçura,
te respiro no sal que vem do mar.

Se ao menos o destino me escutasse,
teu nome enfim repousaria em minha alma,
e meu sorriso, em ti, iria morar.

Daniel André

21 de abril de 2018

O Astronauta Espiritual



Sou um astronauta da essência,
navego o silêncio com escafandro de fé.
Minha nave? Uma gôndola opala,
deslizando no rio celeste
entre planetas que oram
e estrelas que esperam.

Remo com esperança pelas galáxias,
traço constelações com os dedos da alma,
desenho luz onde antes havia vácuo,
e em cada supernova que explode,
sinto nascer mais uma pergunta
sobre o divino que me habita.

Neste mergulho cósmico,
feito de inícios e recomeços,
de explosões e eternidades,
procuro um lar — não de paredes,
mas de paz.

Um lugar onde o espírito possa
descansar…
aprender…
evoluir…
e amar.

A mensagem é clara:
todos somos poeira sagrada,
fragmentos do infinito
com saudade de Casa.


Daniel André

14 de fevereiro de 2018

Cinzas de carnaval

Ao rufo quente dos tambores,
o carnaval se vestia em luz,
mil máscaras, mil amores 
e o suor em purpurina se traduz.

Fantasias dançavam na avenida,
serpentinas costurando os desejos,
olhares cruzavam em despedida,
em delírios, em beijos ,em lampejos.

O prazer, em goles e gargalhadas,
brindava corpos que não se sabiam.
Mas no ápice das madrugadas,
as promessas, já frias, se diluíam.

Agora, a quarta é só cinza e poeira,
na caixa velha, repousa a folia:
confetes dormindo em madeira,
lembranças de uma breve alegria.

Daniel André 

4 de fevereiro de 2018

Na barba de todo homem

Na barba de todo homem
há um rugido primitivo,
um ancestral mal domado
em caverna imaginária,
recluso, instintivo.

Ela cresce como o tempo —
sem pressa, sem permissão —
é mapa de guerra no rosto,
cicatriz que não se desfaz,
grito surdo da intuição.

Entre os pelos, mora o silêncio
de quem carrega a tempestade,
não por fraqueza ou covardia,
mas por honra — ou lealdade.

Na barba, um Neandertal escondido,
um desejo bruto, indomado:
de ser único, selvagem e feroz...
mas ainda assim, apaixonado.

Daniel André