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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

29 de setembro de 2013

Autópsia do Amor


Fiz de ti meu último instinto 
desobedeci à vida
para existir no teu abismo.

Do peito arranco os pregos
que chamavas de carinho.
Doem, mas têm o teu perfume.

Prefiro sangrar em ti
a respirar no mundo sem nome
onde não estás.

És meu veneno santo,
minha ruína preferida.
E amar-te, ah, amar-te 
é morrer com elegância.


Daniel André - 29Setembro2013

28 de setembro de 2013

A Visita

À noite, o ar fervilha em tentação,
um vulto espreita a carne adormecida.
No quarto aberto, pulsa a despedida,
um corpo aguarda em febre e sedução.

A barba roça a seda da tua mão,
teu suspiro me chama à tua vida.
Aceito o risco, a entrega destemida,
no gesto ousado que atiça a paixão.

De bruços, sonhas, mas desperta o cio,
meu toque arranca o riso entre gemidos,
sou teu poeta e cafajeste frio.

Na pressa ardem os corpos confundidos;
beijo tua testa, flor no amor tardio,
e parto, em ecos, de nós ainda unidos.


Daniel André

Chuva de doces



As crianças não dormiram.
Disseram que o céu ia chover balas 
e acreditaram.

A manhã nasceu cedo,
com cheiro de pão e promessa.
Na escola, a lição era simples:
“Prestem atenção no que é divino.”

O sino tocou, e o milagre começou.
Doces caíam das janelas,
anjos de quichute cruzavam as ruas,
mochilas abertas, corações também.

Paçoca, mariola, jujuba,
um mar de cores contra o cinza do tempo.
E entre risos e papel de bala,
São Cosme e São Damião passavam
invisíveis e contentes 
abençoando o barulho da infância.

No fim, um copo de Grapette roxa,
e o mundo inteiro parecia bom de novo.

Salve os santos,
e o doce milagre de ser criança.


Daniel André - 28Setembro2013

23 de setembro de 2013

Moça com flor no cabelo


Um desfile de Angélicas deslumbrantes,
Amarílis, Crisântemos, Delfins radiantes.
Perfumadas, vaidosas, em cores sutis 
Orquídeas e Gardênias, mil matizes sem fim.

Eram deusas que o dia fazia nascer,
Com bocejos que ninguém podia ouvir.
Brincavam de dança pelas calçadas,
Anunciando que a primavera ia florir.

Uma delas saiu como quem floresce,
Revelando a mulher por trás da timidez.
Entre fios de cabelo e um gesto suave,
Se permitiu o atrevimento, de uma vez.

Moça com flor no cabelo encantado,
Roubou o olhar das irmãs em festa.
Sou um cravo, rubro e desavisado,
Que se perde no riso de quem me resta.


Daniel André

22 de setembro de 2013

Amemos !


Foram tantas gargalhadas
que aquela noite,
aquela noite ...
jamais adormecerá.

Que eu te ame,
que tu me ames,

Amemos!

Conversamos sobre Nietzsche,
e ali, entre goles e ideias,
descobrimos que a única religião,
a mais pura sobre esta Terra,
nos olhos de algum Deus distraído,
só pode ser o amor.

Amemos!

Ouvimos Novos Baianos,
secos... molhamos o que era seco,
fumamos a vida em papel de riso,
e, sem perceber, estávamos ali:
sentados, quase cochilando 
e nascendo.
Era ele.
O amor.

Amemos!

Sabíamos de quase nada.
E mesmo assim,
encontramos espelhos,
desacertos,
e discutimos como filhotes de algo vivo.
Foram tantos encontros
que o tempo...
esqueceu de passar.

Amemos!

Peguei tua mão.
Olhei fundo,
nessas bolinhas de Vênus que carregas.
Tu me olhavas com candura,
e eu, num sopro de coragem,
aproximei a boca da tua
e disse o que sempre soube:

"te amo."

Amemos!


Daniel André.

15 de setembro de 2013

Outono no Quintal da Alma

Caem suaves as folhas do outono,
crianças correm, rindo no gramado.
O quintal, em festa de cores,
respira um sossego sagrado.

Sou brisa que varre o terreiro,
folha livre em sua despedida.
No peito, um sol manso se acende 
é o calor simples da vida.

O verde se veste de ouro,
a terra suspira e agradece.
Outono é colheita da alma,
tempo em que tudo amadurece.

Nos dias de luz repousada,
acolho o que o tempo me traz:
a esperança brotando pequena,
feito flor em paz.


Daniel André


A fotografia foi captada pelo meu grande amigo e companheiro, o fotógrafo Nil Barros, na cidade de Nova Friburgo, região serrana do interior do Rio de Janeiro.