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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

31 de agosto de 2025

Evolução

 











No ventre da terra germina a semente,
um suspiro verde rompe a escuridão.
Ali começa o ciclo paciente,
um fio de vida, pura expansão.

O inseto dança no pólen dourado,
o voo frágil que move destinos.
Cada batida, um elo traçado,
no tear secreto dos caminhos divinos.

A fera que ruge na noite silente,
sangue que pulsa, instinto que guia.
Na luta bruta, no caos inclemente,
há um sopro oculto de sabedoria.

O homem ereto, olhando o infinito,
cria perguntas, ergue o pensar.
Na chama inquieta do seu espírito,
o fogo é mais do que só queimar.

Das ondas marinhas ao canto da ave,
tudo é centelha da mesma canção.
Rios e astros, em marcha suave,
tecem o pulso da evolução.

E no universo, que nunca descansa,
explode a energia em flor estelar.
Tudo que vive, sonha e avança,
é o cosmos tentando se lembrar

— Daniel André

22 de agosto de 2025

A última banca de jornal










 







Foram-se os discos,
as agulhas girando,
o chiado da memória,
silêncio nas prateleiras.
 
Foram-se as máquinas,
os dedos batendo,
o som de ferro e tinta,
um eco sem retorno.
 
Foram-se as cartas,
o perfume no papel,
as esperas longas,
a caligrafia lenta.
 
Na esquina, a livraria,
E a última banca de jornal, cansada
guardando o fim,
os últimos olhos de papel.

— Daniel André

16 de agosto de 2025

Tentamos










 






Amar não é receita,
é corpo em busca de abrigo,
às vezes espelho de carências,
às vezes abismo de diferenças.
Cada encontro é uma resposta
quem nem sabemos a pergunta.

Há quem precise de silêncio,
há quem clame por gestos ruidosos;
um oferece constância,
outro, vertigem.
E no meio da troca,
o tempo decide a duração do laço.

As necessidades nem sempre coincidem:
um pede ternura lenta,
outro, fogo imediato.
E ambos têm razão,
pois o coração não entende de regras,
apenas de pulsares distintos.

Quando se encaixam,
é milagre breve,
um intervalo de eternidade.
Não dura porque deve,
dura porque pode
e isso já é bastante.

Amar não se cobra,
nem se mede em esforço ou dívida.
Ele é gratuito,
se oferece nu,
ou se retira em silêncio,
quando perde sentido.

E ao fim da história,
sem vencedores nem culpados,
apenas dois seres
que se encontraram no tempo certo.
Nada faltou, nada sobrou:
tentamos.

— Daniel André

8 de agosto de 2025

Lua Cheia em Aquário.

 


Lua cheia em Aquário,
vento frio, olhar desperto.
portas de luz se abrem,
o tempo respira lento.
 
Rosas brancas na água,
silêncio que acaricia a pele.
camomila dissolve o peso,
o coração se recolhe.
 
Flor de laranjeira no ar,
memórias se tornam suaves.
cura é um sopro invisível,
o corpo bebe calma.
 
08:08, linha de ouro.
o céu escreve segredos.
somos rio e estrela,
inteiros outra vez.

 Daniel André

2 de agosto de 2025

Sobrevivente

 


















Sonhei alto.
Esqueci que a gravidade é filha da realidade.

Amanheceu na cidade grande.
Não ouço galos cantando.
Ouço sirenes miando
o choro mecânico da selva cinza.

Às quatro da manhã
são as buzinas que gritam.
Quem grita dorme?
Quem dorme, perde.
Perde o ponto, o tempo, o troco.

O malandro não dorme até tarde.
Ele vigia o caos,
vende sorte em papel amassado.
É o bicheiro da esquina,
com olhos de quem viu mais fim do que começo.

Troquei o cheiro de terra molhada
pelo perfume ácido do metrô lotado.
Lá, o silêncio era ouro.
Aqui, barulho é moeda de troca.

Na cidade grande,
ninguém tem tempo de se perder.
Então nos perdemos todos juntos,
no mesmo horário de pico.

Fui buscar futuro.
Ganhei um aluguel atrasado.
E um vizinho que canta sertanejo às três da manhã.

Sobrevivo.
Porque viver,
aparentemente, custa mais caro que sonhar.

Daniel André