A
carência voraz, desgovernada,
e a ânsia de ser visto com desejo
assassinam sentimentos outrora nobres,
restando apenas a carne exposta,
à mostra, em leilão silencioso.
Genitálias em oferta, corpos vitrificados;
na câmara fria do prazer sem rosto,
afetos são abatidos ainda vivos,
o toque serve ao impulso, não à alma,
e a conexão morre antes de nascer.
Cortes limpos, desejos dilacerados,
tudo embalado a vácuo
em telas profundas de solidão.
Corações cansados e mudos assistem
selfies mendigarem orgasmo por curtidas.
E sem saber, também sou mercadoria:
parte do balcão digital das paixões plásticas,
instinto em alta, alma em ruína,
enquanto o amor, desalojado
perde-se ao vento, sem data de retorno.
Daniel André
