Na mesa os pratos, ilhas separadas,
sustentam verbos nunca pronunciados.
Entre garfo e olhar, vozes caladas,
ficaram na travessia, naufragados.
O pernil traz as vísceras expostas,
um cheiro de risadas já perdidas.
Quem não deseja as bênçãos mais compostas,
família unida e as bocas bem servidas?
Mas unem-se tão só pela comida,
pela luz morna em ouro do candelabro,
pelos minutos, glutonaria da vida
que devoram a fala em seu cinzento nababo.
Silêncio reina, frio como altar.
Bem-vindos.
É a hora do jantar.






