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Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

30 de julho de 2025

Remédio para a alma
















Pra acalmar a alma,
bastava uma casa pequena,
grama de lençol,
um pé de manga com balanço
que empurra a gente pro céu,
como se o vento tivesse mãos.

Na estante, o Santo Expedito vigia,
as espadas de São Jorge guardam silêncio.
Jesus abençoa os avós
na foto que sorri mais que a parede.

A vitrola chia Clara Nunes,
e o ruído vira carinho.
O chão, vermelho e gasto,
acolhe meu cansaço.

Basta um café com água no filtro de barro,
feito devagar,
e o cão na porta de casa
vendo o infinito piscar.

A paz não grita.
Ela sussurra,
num lar simples
de alma lavada.

Era isso. Sempre foi.

— Daniel André


16 de julho de 2025

Tato

 

Pra te sentir,
preciso te tocar.

A pele entende,
antes do cérebro.

Mas também desejo,
que me toque o olhar.

Palavras têm dedos,
mesmo sem mãos.

Silêncios falam,
se vêm com intenção.

Toca-me inteiro,
com tudo que és.

Me toca sem pressa,
mas com urgência.

Porque amor,
não se vê, se sente.

E eu,
quero sentir tudo.


Daniel André

11 de julho de 2025

Silêncios de Inverno

 

É no inverno que me dispo das urgências
e visto silêncios como quem veste lã.
As palavras encolhem, tímidas,
nos cantos da boca que prefere o chá.

O mundo desacelera sua pressa ordinária,
e cada sopro de vento parece um sussurro antigo
como se a Terra contasse segredos
só aos que ousam escutar com os ossos.

As árvores, essas esculturas de paciência,
esticam seus galhos como antenas
buscando sinais de alguma verdade solar,
enquanto os homens …
seguem ignorando o próprio eco.

Entre cobertores e olhares demorados,
descubro que o calor mais raro
não vem da lareira acesa,
mas da alma que arde em meio ao deserto gelado da multidão.

E quando caminho por ruas desertas,
escuto meus próprios passos me seguindo,
como se meu outro eu, aquele mais inteiro
só se atrevesse a existir no inverno.

Daniel André