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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

26 de março de 2015

Aquarela de sonhos


Meus sonhos nascem tortos de inocência,
descalços, brincalhões,
montados na candura risonha
que só criança sabe fabricar
com as mãos sujas de brincar universo.

Um cão, desses que filosofam sem saber 
anda sozinho pelo quintal,
enfeitando a tarde com laços de ternura
que ele encontra no próprio rabo
e oferece como quem dá ouro.

Nas correntezas mansas do carinho
eu cato perfumes de vida pequena:
cheiro de flor sem importância,
de vento que faz bagunça,
de alegria que se derrama
e mancha as páginas brancas
com tinta de riso recém-nascido.

Planto gratidão na grama miúda,
regando ilusões reais
no meu jardim de quase-nada.
Ali, cada sorriso vira semente
e cada segundo 
mal nasce e já vira eternidade.

No afeto mais simples, mais puro, mais bobo,
eu arremesso pássaros arco-íris ao céu
pra ver se o azul aprende novas maneiras
de ser azul.

Refloresto a vida com um pincel gasto
e não aceito cinza no meu quintal:
pinto meus invernos de festa,
como quem colore tristeza
só pra vê-la desistir de ser séria.

Sou jardineiro de sentimentos inúteis.
E, portanto, essencial.

— Daniel André

19 de março de 2015

Brinde ao Amor!



O acalento que procuro
talvez exista mesmo
no silêncio humilde
dentro de uma garrafa de vinho.
Entra, amor.
Senta-te aqui ao meu lado.
A mesa fica menos vazia contigo.

Há em mim uma ausência quieta,
desse tipo que bate no peito
sem fazer alarde.
E quando te olho,
parece que o destino, distraído,
escreveu num rótulo antigo:
vocês deviam se encontrar.

Deixa-me imaginar
que adormeço junto ao teu corpo,
partilhando o ar,
como quem descobre de repente
um novo modo de ser leve
sem perder a gravidade.

E se, por acaso,
minha boca tocar a tua,
o tempo, sempre tão sério 
se detém.
E eu fico.
Fico porque algumas presenças
não pedem explicação.

Os cenários que trazes
são molduras de paz rara.
O amor, afinal,
é essa energia discreta
que limpa as dores antigas,
cura o que nem sabíamos ferido,
e devolve cor
onde antes era cinza.

Então brindemos 
por nós,
por este encontro improvável,
por esta taça
que insiste em não se esvaziar.

Tim-tim.


— Daniel André.