Meus sonhos nascem tortos de inocência,
descalços, brincalhões,
montados na candura risonha
que só criança sabe fabricar
com as mãos sujas de brincar universo.
Um cão, desses que filosofam sem saber
anda sozinho pelo quintal,
enfeitando a tarde com laços de ternura
que ele encontra no próprio rabo
e oferece como quem dá ouro.
Nas correntezas mansas do carinho
eu cato perfumes de vida pequena:
cheiro de flor sem importância,
de vento que faz bagunça,
de alegria que se derrama
e mancha as páginas brancas
com tinta de riso recém-nascido.
Planto gratidão na grama miúda,
regando ilusões reais
no meu jardim de quase-nada.
Ali, cada sorriso vira semente
e cada segundo
mal nasce e já vira eternidade.
No afeto mais simples, mais puro, mais bobo,
eu arremesso pássaros arco-íris ao céu
pra ver se o azul aprende novas maneiras
de ser azul.
Refloresto a vida com um pincel gasto
e não aceito cinza no meu quintal:
pinto meus invernos de festa,
como quem colore tristeza
só pra vê-la desistir de ser séria.
Sou jardineiro de sentimentos inúteis.
E, portanto, essencial.
— Daniel André

