Se um amor se põe em tarde cansada,
no outro ascende um sol impaciente.
O silêncio, que antes fingia calma,
arde súbito, feroz, transparente.
Quando escorre no peito, vacila o mundo;
nenhum abrigo sustenta seu peso.
Pede demais, do pouco que existe
pois o ciúme é fome sem endereço.
Nele, ama-se com a mão tremendo,
confia-se temendo a mesma entrega.
Perdoa-se antes, por puro pavor,
e o coração vigia o que apega.
Mas há um sopro leve, quase inocente,
onde o ciúme é brisa que passa e some:
não fere, não morde, não faz teatro
apenas dá sabor ao nome do homem.
Daniel André 2014
