Rostos acesos, outros em repouso.
No ônibus, cada um é seu próprio enigma.
Silêncio de filósofos cansados
ruminando a pressa e a pouca duração da vida.
Marmitas seguram o corpo.
Sonhos seguram o resto.
Dividimos a mesma janela,
o mesmo motor resmungando,
e as mesmas perguntas que ninguém resolve.
Da rua, surgem dúvidas antigas.
Olhares dispersos, tensos, ternos
todos procurando aquele lugar impossível:
um caminho que leve para dentro.
O dia termina, outro recomeça.
Entre um ponto e outro,
uma fresta de pensamento:
perceber que mudar
não é trocar de bairro.
A mudança real não arruma malas.
Ela acontece quieta,
no banco gasto do coletivo,
quando enfim escutamos
a voz que sempre ignoramos.
Daniel André 2014