Dizem que Saturno rege este ano lento,
um espelho torto onde me revejo dividido.
Fugir dos anéis é ingenuidade do sentimento:
o destino sempre alcança quem se esconde de si.
Há cavalo alado para quem não suporta o chão,
mas todo voo é vício de ausência.
O real, esse velho incómodo,
exige que eu o encare sem metáforas.
Desfaço-me do eu que esperava milagres baratos
e guardo seus mapas inúteis numa gaveta íntima.
Resta-me o ser firme, o que persiste,
mesmo quando o mundo insiste em adormecer-me.
Daniel André - 09Novembro2013


