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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso. Insta: @danielrprj

31 de outubro de 2013

Depois da festa


Sentado no centro de um salão vazio,
ecoando risos que já se calaram,
segurava-me sóbrio por teimosia 
num copo morno de cerveja esquecida.

Engoli a última gota da saudade,
sentindo-a escorrer por dentro, lenta,
como os anos, que já não correm por mim,
mas me atravessam em silêncio, como vento.

Comi meu pedaço de torta de maracujá,
mastigando lembranças com gosto ácido,
recheadas de imagens embaçadas
de tempos que pareciam eternos, e não eram.

Estourei bexigas infladas de mágoas,
outras flutuaram, fugindo pela janela aberta.
Ali foram amores e eu fiquei,
com a paz construída sobre os estilhaços.

Ganhei, de presente, rugas e discernimento,
e a amarga sabedoria de que o tempo
não fala mas ensina.
Um mestre invisível, de olhos eternos.

Alguns me abraçaram com alma e verdade,
outros, apenas farejaram oportunidades.
E ali compreendi: nem todo afeto é sincero,
mas toda ausência deixa vestígios.

Quando a música cessou, tudo virou lembrança:
fragmentos repetidos nas páginas de um livro
que não escrevemos sozinhos,
e que insistimos em chamar de vida.


 Daniel André

28 de outubro de 2013

O orfanato


Entrei no corredor
e minha força caiu.
Fiquei nu 
não de roupa,
mas de coragem.

Como ser tão frio?
Como guardar um mar nos olhos
depois do orfanato?
Pequenos, frágeis,
e ainda assim acesos
por um resto de esperança.

Peço a Deus:
um colo para cada um.
Eles, tão mínimos;
eu, desfeito.
E quando parti,
mãos no portão,
e outras 
presas no meu coração.


Daniel André    -    28Outubro2013


24 de outubro de 2013

Agradecimentos II - Gratidão


















Na imensidão que é essa blogosfera, conhecemos pessoas que tem os mesmos pensamentos e coincidências de vida que nós. Assim é com a amiga e professora Vall Nunes, que tenho imenso carinho.  

Compartilho com vocês, a poesia que ela fez para mim. Não tenho muito o que dizer, pois toda vez leio, fico com aquele semblante de menino feliz.  Um grande abraço a todos !


Daniel André 
Homem
Anjo
Ou profeta?
Lapidador de versos
Impressos
Imprime
Os mais sublimes sentimentos
Homem de sentimentos nobres
Sorriso contido
Pra esconder o homem atrevido?!
Anjo com olhar inocente
Caridoso
Benevolente
Mexe com as emoções sutilmente
Profeta
Anuncia a purificação da alma
Depois de dias no matagal
Para voltar um novo homem
Carregando Um embrião de sonhos
Onde as fantasias se originam
Fotografias doloridas
Registram vidas partidas
Nos álbuns ocultos dos sentimentos
Recordações do Homem Grande
Abriu-se o pote das lembranças
Saiu, enfim, da reclusão
Depois de um tempo necessário de preparação
Deixou suas ideias se espalharem
Como as folhas se espalham pelo chão do outono
Assim, anuncia que é tempo de colher frutos
Novos, doces, com sabor singular da estação
Lapidador de versos
Amigo virtual
Carinho inexplicável e real
Compartilhamos dessa Confusão que nos causa as emoções
Povoa meu particular universo
Com lindos versos impressos
Escritos por um poeta gago romântico
Que pode ser também chamado de Apego
Um animal diferente
Dependente de um abraço quente
Aconchegado nas Cidades do interior
Pra fugir desse Cemitério de gente viva
A natureza purifica
Profetiza 
Escritos com penas angelicais
A perfeita dor
Que somente sente os mortais 
Por serem capazes de se doar a outrem
Amemos!
Como Meu Poeta nos exorta
No Presente do subjuntivo do verbo amar
O mais puro dos sentimentos
Que parece ser o maior tormento
Daqueles que não querem se entregar
Amemos com simplicidade
Com entrega e verdade
Amemos!
Profeta Daniel
André fiel discípulo da verdade
Num misto de homem e anjo
Espalha mensagens de amor
Com muita simplicidade
Mesmo preso no Laço da sua tristeza
Seus versos carregam especial beleza.


Vall Nunes
http://subjetividadeevoce.blogspot.com.br/ 

22 de outubro de 2013

Urgência de amar

Corri mundos pra te encontrar.
O céu brilhou com minha pressa
e teu abraço dissolveu o medo
acende a própria luz da alma.

A noite nos recebeu em silêncio.
A lua recuou, tímida,
enquanto deixávamos cair a saudade
e o tempo virava chama.

No chão macio do mundo,
entregamo-nos sem defesas.
E depois, deitados na calma,
a luz dos vaga-lumes
selou o que não precisa de nome.


Daniel André  22Outubro13

20 de outubro de 2013

Troféus vazios

Promessas de eternidade em pó.
Teu orgulho fez festa em mim,
mas meu ego, coitado,
ficou sem casa pra morar.

Teus beijos juravam para sempre.
Quebrei medos, soltei correntes,
e aprendi, tonto,
que a dúvida sempre ganha no final.

Alfazema e bilhetes doces, truque.
Havia um peso escondido no perfume.
Tu guardas corações como troféus;
eu sigo só, mas leve,
e isso, aliás, já basta como céu.


Daniel André  -  20Outubro13

18 de outubro de 2013

A Bailarina e o lixeiro



Ela, leve como música.
Ele, cansado de ruas.
Mas o amor, esse sem carteira assinada 
uniu mundos que ninguém mistura.

Riram juntos do destino.
A rosa improvisada brilhou,
e no beijo sem etiqueta
descobriram o que faltou.

Sob céu nublado caminharam,
mãos que não sabiam mentir.
E o tempo, dócil por um instante,
deixou dois cisnes florir.

Hoje, dançam ainda.
A vida, teimosa os acompanha.
E o amor, velho conhecido,
faz morada onde a esperança se banha.

Daniel André  -  18Out13

17 de outubro de 2013

Convite da Rede

A fadiga mandou aviso:
deita, homem, abandona o aço.
Na rede, o mundo era preciso
lagartixas no seu passo.

Pássaros cantavam ideia
que filósofo nenhum alcança.
“Qual o sentido?”, perguntei 
a poesia riu, sem esperança.

O tempo, breve como um gesto,
passou feito página fechada.
E Hipnos pousou, discreto
selando a noite cansada.

Despeço-me das engrenagens,
do capital em fúria voraz.
Se o amanhã perder a viagem,
degusto o ócio, em santa paz.


Daniel André 17Out2013


A fotografia foi captada pelo meu grande amigo fotógrafo Nil Barros, na cidade de Nova Friburgo,  interior do Rio de Janeiro.

15 de outubro de 2013

Laranja da terra


Chove, e o chão respira baixo.
A poeira cede, mansa, ao rito.
A água afia o ar em silêncio,
tingindo o mundo de azul restrito.

O campo acorda em flor contida.
Hortas brilham em orvalho exato.
Mãos precisas colhem a vida,
fruto nascido do trabalho intacto.

Estradas cortam a terra antiga.
Caminhonetes levam o dia adiante.
Aqui, a guerra vira barro útil,
e a paz se firma como humidade constante.

É nesse chão que deixo o passo,
como laranja madura no galho.
Flores brancas caem promessas,
e o perfume corrige o atalho.

Fico: raiz que aceita a hora,
planta que sabe onde brotar.
A planície me guarda inteiro,
e só a gratidão ousa falar.

Sou semente, fruto e canto,
nervo da terra, sua respiração.
Ela me molda sem cerimônia 
e eu aceito, por pura convicção.


Daniel André    15Out13 


A fotografia foi captada pelo meu grande amigo e companheiro, o fotógrafo Nil Barros, na cidade de Sumidouro,  interior do Rio de Janeiro