A cidade, nua
A cidade abre as pernas do tempo.
As horas correm, varridas.
Na madrugada limpa,
as ruas se despem
sem vitrines, sem disfarce,
sem piedade.
Lâmpadas tremem na neblina,
um corpo dorme sobre o jornal.
Na esquina, um cartaz resiste:
ninguém o lê.
Travestis armam trincheiras de salto,
prostitutas defendem o ponto
como quem guarda o sonho.
Logo o sol virá,
e a hipocrisia acenderá o dia.
Na praça, uma santa
umbanda, fé, esperança.
Todos um só,
enquanto o mundo finge rezar.
Os prédios posam de modernos,
mas sangram histórias pelas rachaduras.
E eu, vigia da noite,
vejo o presente disfarçado de passado
tão elegante
em sua própria decadência.
Daniel André 27Julho13



